Читать книгу: «Flores de Inverno», страница 2

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VII

Ela olhou-o e disse:

— Sempre comovo-me com fogo de artifício. É a sua leveza a riscar e a subir os céus, as cores em movimentos livres, o troar forte e vigoroso, a sua magia que me percorre e faz brilhar o olhar, essa palavra que ganha significado dentro de mim; é o próprio romper da opacidade da noite, a comoção pelo seu vibrar enérgico, tudo isso, realmente, fascina-me. Sempre que sinto fogo de artifício, emociono-me deveras em reverência e silêncio. Infelizmente sei que, tal como muitas pessoas, nem todos estão destinados a brilhar no firmamento. São aqueles fogos que sobem, sobem, mas por algum motivo nunca irão mostrar o seu brilho, nunca irão explodir em magnificência; é pena, pois todos têm algo bom para dar, se pudessem, esses foguetes e os humanos. Vem depois a simples e intensa comunhão e júbilo com o mundo, já apenas e só o entusiasmo do momento que me percorre o íntimo, a alegria espontânea de ainda estar viva. Viva. Compreende isto?

Ele sorriu-lhe, concordando com um olhar que só pedia: “Beije-me como se tu e eu fôssemos também feitos de fogo e incandescência”.

VIII

O centro perfeito do teu olhar

As pontas dos teus dedos que tocam, acariciam e sabem percorrer sem pressa, os afagos de um homem e uma mulher que dançam em fogo que cintila.

Tudo se ilumina porque sei que te quero amar, mesmo sendo tu e eu de carne, sangue e ossos, mesmo sabendo que na limitação deste verídico, seremos brilho pertinaz.

O teu universo é a proeza que quero arriscar, nesta oferta cada vez mais vasta de universos sedutores-vazios, preenchidos de excessivos néones e garridas gambiaras.

Tu não.

Tu tens luz própria.

IX

Livre:

Que posso acrescentar ao que sou, ao que faço, se o meu trajeto é não querer ter trajetos, ou pelo menos dos que surgem por inevitabilidade existencial, ir-me sempre libertando?

X

Uma pequena ode ao silêncio, esse silêncio que a muitos assusta por tanto lhes trazer os seus particulares barulhos ensurdecedores.

Silêncio em mim é degustado em suaves tragos de borbulhante contentamento cor de primavera.

XI

Tudo encaixa neste

amanhecer

o silêncio reina,

o perfeito momento de um despertar em serenidade,

a aconchegante sensação de fazer sentido na singeleza desse desabotoar do céu em sol amornado.

São as coisas mais simples que nos dão, sem nada querer em troca, sincera substância.

E eis o cheiro da terra e orvalho, fértil para lançar a semente, o beijo-sol que acaricia a sua terra, desejoso de a despertar.

XII

Tem dias.

Fecho os olhos, giro o globo, feito à medida da minha humana dimensão, e aponto.

Abro os olhos, vejo onde calhou. E depois sonho.

XIII

A ideia de que somos concebidos como uma imensa tela me consome.

Imagino-nos, cada um de nós, com seu fio condutor e um grande tecelão, qual maestro, que devagar nos tece.

Acho que deus é isto.

Esta incomensurável maquinaria invisível que nos atravessa e nos urde. Uma fazedura gigantesca, a grande obra de arte intemporal, que o nosso fugaz olhar terreno não consegue nunca adivinhar nem vislumbrar.

Acredito que os nossos mortos, consoante vingança ou compaixão, nos criam novelos, nós-de-vida ou desatam-nos.

Temos sempre que ser generosos, gratos e prudentes com os nossos mortos.

Eles sabem coisas que nós ainda não.

XIV

Tal era o seu desejo de crescer que quando finalmente aconteceu, brotou vida de tal maneira que a semente já não era uma só pequena semente, era agora gigante explosão de cor em direção aos céus!

A vontade de quebrar a crosta rija, despontar, primeiro timidamente, depois, ao cheirar o ar que a esperava, crescendo de forma quase abrupta, tremendamente sequiosa de água límpida e terra generosa, fértil, a ousadia desta pequena semente tomou o sentido ascendente de quem sabe para onde tem de ir, já sem sombras e barreiras, longe da escuridão que a envolveu; agora é a subir, sempre a subir, vivenciar a pujança da sua natural magnificência.

Eis o seu caminho, eis a razão e o sentido pela qual existe. De semente a seara/flor, de seara/flor a alimento, de alimento a vida. Este harmónico ciclo só faz sentido quando a semente finalmente rompe, livre e em crescente, eleva-se perfeita e bela para assim momentaneamente beijar o firmamento, vibrante, viva e solta estar debaixo do translúcido casulo em tons celestes que a todos aconchega com o seu olhar repleto de estrelas.

Compadeço-me pelas sementes que definham, desvigoram-se e falecem sem nunca terem podido ser afagadas pelo Sol e por esse grandioso firmamento, oprimidas que estão em terras infecundas, de águas salobras e turvas, em sufocantes e mortíferos ares irrespiráveis.

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