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Rastro de Morte

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Из серии: Um Mistério de Keri Locke #1
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CAPÍTULO VINTE

Terça-feira

Madrugada

Lutando contra o sono, Keri dirigiu até West Venice High. Ela ouviu rumores de que uma vigília estava acontecendo. Estacionou perto da entrada principal e caminhou até lá. Era difícil de não ver. Cerca de quarenta estudantes e professores estavam de pé debaixo da escada principal, acendendo velas, dando as mãos e falando sobre Ashley. Alguns conversavam em voz baixa entre si. Outros falavam dramaticamente para as câmeras de TV que tinham se instalado no local. Alguns policiais fardados permaneciam de pé ao lado do movimento, encostados contra no capô de sua viatura, assistindo a tudo.

Keri se moveu entre eles o mais discretamente possível. Essas pessoas podiam estar dispostas a falar, especialmente fora do ambiente intimidante de uma delegacia. Talvez ela pudesse descobrir algo de valor em conversas casuais, que interrogatórios formais podem deixar passar.

O professor de geometria do terceiro período de Ashley, Lex Hartley, um homem calvo atarracado de cinquenta e poucos anos, disse que Ashley era uma boa menina, uma garota normal, apesar de ter que admitir que suas notas caíram recentemente.

"Fale-me sobre Artie North".

Hartley pareceu surpreso.

"Por quê? Ele está envolvido?"

"Estou apenas checando alguns boatos. Você já ouviu alguns rumores de que ele estava estorquindo Ashley em troca de sexo?"

"De forma alguma. Conheço Artie há cinco anos. Ele é um cara bacana, um pouco solitário, talvez. Mas ele leva a proteção desses jovens a sério".

"Há um mês, mais ou menos, ele levou uma surra?"

"Sim. Ele também trabalha como segurança no pátio de manutenção da Metrolink. Dois sem-teto o atacaram quando ele estava tentando expulsá-los do terreno".

"Foi isso que ele lhe contou?"

"Sim".

"Ele parecia ter apanhado muito?"

"Não sei... tinha um olho roxo, um lábio estourado".

Na atual guerra de histórias conflitantes entre Artie North e Walker Lee, Keri se perguntou se verdade iria aparecer algum dia.

A detetive continuou a avançar pelo grupo, reunindo fragmentos de informação de estudantes mais próximos.

Uma garota chamada Clarice Brown disse que Ashley estava aprendendo a atirar. Ela disse que era para proteção, mas não estava claro se ela estava protegendo a si mesma ou a outra pessoa. Ela sussurrou que Ashley estava usando muitas drogas ultimamente. Para conseguir o dinheiro, estava penhorando as joias de sua mãe, que roubava do cofre.

Miranda Sanchez, a garota que originalmente viu Ashley entrar na van, também estava lá. Ela disse que muitas garotas na escola eram vadias invejosas, que odiavam Ashley. Elas começaram todo tipo de boato. Nunca se sabia o que era verdade sobre Ashley ou o que era completamente falso, mentiras espalhadas por haters. Pessoalmente, ela gostava de Ashley.

Um garoto mais novo, chamado Sean Ringer, contou que Ashley disse a ele há umas duas semanas que o senador estava com problemas. Ela não havia elaborado o assunto, mas parecia sincera quando disse isso, talvez até um pouco assustada.

Pelo canto do olho, Keri viu um movimento súbito em sua direção. Um repórter do canal KTLA a havia visto e estava caminhando apressadamente com uma equipe de filmagem a reboque. Ela virou as costas, colocou o boné de beisebol que mantinha no bolso de trás para esse tipo de situação, e rapidamente abriu caminho pelas pessoas, voltando para o carro. Keri ouviu o repórter gritar uma pergunta, cerca de 10 metros às suas costas.

"Detetive Locke, é verdade que o FBI assumiu a investigação de Ashley Penn?"

Ela continou a se mover, sem dizer nada, caminhando o mais rápido que podia sem começar a correr.

*

De volta ao carro, a caminho da casa-barco, Keri tentou processar tudo que havia sido jogado nela nos últimos minutos.

O FBI havia assumido a investigação? Ela queria ligar para Hillman, mas pensou melhor sobre isso, às 3h30 da manhã.

Ela tentou separar os rumores dos fatos. Ashley tinha comprado uma arma? Artie North foi espancado por alguém? Ahsley estava penhorando joias? O senador Penn estava com algum tipo de dificuldade?

Ao invés de obter pistas concretas, tudo o que ela tinha agora eram mais perguntas, e quase nenhuma com respostas simples. Percebeu, tarde demais, que havia apenas piorado as coisas indo para a escola. Se ela tivesse ido direto para casa, já estaria dormindo. Ao invés, dirigia pelas ruas de Venice no meio da noite, no momento, habitadas por traficantes, prostitutas e seus cafetões. Ela estava cansada demais para se importar com qualquer um deles. Além disso, sua cabeça e costela ainda latejavam após sua altercação com Auggie.

Quando se aproximou da Windward Circle, há apenas alguns blocos de onde Ashley havia desaparecido, os pensamentos de Keri se voltaram para Evie. Como ela podia ajudar alguma adolescente que nem conhecia quando não pôde ajudar sua própria filha?

Então, lhe ocorreu — Evie era uma adolescente agora. Quer dizer, se estivesse viva.

Cale-se! Nem pense nisso. Como ousa? Ela está contando com você para encontrá-la, para salvá-la. Se desistir, como ela poderá permanecer forte? Vou encontrá-la, Evie. Eu vou! Não desista, bebê. A mamãe não desistiu. Eu te amo tanto.

Ela afastou esses pensamentos. Isso não ajudava. Tinha que permanecer focada. Quando este caso estivesse encerrado, ela abordaria Jackson Cave, encontraria uma forma de obrigá-lo a falar sobre o Colecionador. Ela não era mais uma professora universitária. Tinha todos os recursos da LAPD à sua disposição e queria usá-los. Ela encontraria esse Colecionador, ou morreria tentando.

E foi aí quando ela a viu, lá mesmo, na esquina da Windward com a Main. Era Evie!

Ela havia visto suficientes simulações computadorizadas de progressão da idade para reconhecer as semelhanças. A garota loira na esquina com a mini-saia preta justa tinha exatamente a mesma estrutura óssea e cor de pele de sua filha. Sim, ela usava maquiagem pesada e era forçada a usar uma blusa justa que era ofensiva para uma garota da sua idade. Mas as características batiam.

Keri quase vomitou ao ver o homem branco, pálido e grande ao lado dela, com uma mão descansando firmemente na base das costas da menina. Ele já tinha passado bastante dos 40 anos e tinha facilmente 1,80 m e 110 quilos. E, claramente, era o cafetão.

Keri enterrou o pé no freio. O Prius cantou pneu e girou, parando perto do meio-fio em que eles estavam. Ela saltou do carro e circulou o veículo.

"Evie!" gritou.

O homem grande deu um passo à frente para bloquear seu caminho.

Ela tentou movê-lo para o lado para chegar à garota, mas ele agarrou o pulso direito dela com força.

"O que você acha que está fazendo, sua doida varrida?"

Keri nem olhou para ele. Seus olhos estavam focados apenas em Evie.

"Você deveria tirar as mãos de mim, Jabba", ela rosnou.

Ele apertou ainda mais o pulso dela.

"Mesmo mulheres de meia idade não tocam na mercadoria antes de negociar", ele disse.

Keri percebeu que, com ele segurando seu pulso direito, era impossível pegar sua arma. Ele tinha sorte. De outro modo, já teria levado um tiro.

Ela parou de puxar e ele involuntariamente relaxou a mão. Ela sabia que não poderia se soltar, mas conseguiu que ele baixasse a guarda. Aproximou-se e pisou com força no peito do pé dele com seu salto alto. Ele gemeu e se dobrou, mas não largou o pulso de Keri. Ela se virou e golpeou a cabeça dele, que estava abaixada, com o cotovelo esquerdo. Ele soltou-a e cambaleou para trás.

Ela teria pego sua arma, mas seu pulso estava fraco e dormente. Keri não tinha certeza que poderia segurá-la, quanto mais atirar. Ao invés, deu um passo na direção dele e chutou, esperando que pudesse aproveitar o estado cambaleante dele para derrubá-lo no chão. Ela fez um bom contato, mas o cafetão conseguiu agarrar seu tornozelo e a derrubou junto com ele.

Sem subestimá-la mais, ele imediatamente rolou sobre ela, esmagando-a com todo o seu peso. Ele pressionou seus joelhos nas costelas já doloridas de Keri, fazendo-a gritar de dor. Então, inclinou-se e passou os braços ao redor do pescoço da mulher. Seus olhos estavam brilhantes de fúria e saliva pingava da boca dele para o cabelo dela.

Keri sentiu que só lhe restavam alguns poucos segundos de consciência. Ela olhou para Evie, que estava imóvel e aterrorizada no meio-fio. Sua vista começou a embaçar.

Isso não acaba assim!

Keri se forçou a focar no homem sobre ela. Ele era forte, mas também confiante demais.

Use isso.

Com um movimento rápido e hábil, ela levantou as duas mãos ao mesmo tempo e espetou os dois olhos abertos dele com os polegares. Ele urrou e a largou imediatamente. Ela não perdeu tempo: esticou-se para trás e usou toda a sua força para socá-lo no pomo de Adão. Ele tossiu e quase vomitou. Quando abriu a boca para tomar ar, ela bateu no queixo dele para cima, com a base da palma de sua mão aberta. Ela o ouviu gritar e sabia que seus dentes haviam se trincado sobre a língua dele.

Keri empurrou o homem e girou seu corpo, antes de ficar de pé. Antes que ele pudesse se recompor, deu-lhe um chute nas costas e ele caiu no chão, de barriga para baixo. Ela caiu sobre ele, cravando um joelho no côncavo das suas costas. Puxando as algemas com uma mão, ela agarrou um dos pulsos dele, e então prendeu-o ao outro. Por fim, Keri se levantou novamente e colocou o pé na nuca do infeliz.

"Não se mova, idiota", ela disse a ele, "ou vai usar uma bolsa de colostomia pelo resto da vida".

 

O corpo dele ficou flácido e ela sabia que ele não iria tentar mais lutar. Ela se permitiu respirar fundo, profundamente, antes de pegar seu rádio e chamar reforço. Finalmente, virou-se para olhar para Evie, que ainda estava imóvel, petrificada, sob um poste de luz.

Foi só então, sob uma luz mais forte e ao ficar bem perto dela, que Keri percebeu que não era Evie de jeito nenhum. Na verdade, a não ser por ser jovem, loira e branca, na verdade, elas não se pareciam tanto assim.

Keri pôde sentir um soluço subir pela sua garganta e o forçou novamente para baixo. Ela baixou os olhos para seu rádio e fingiu mexer em alguns controles, para que a garota à sua frente não pudesse ver a devastação em seu rosto. Quando teve certeza de que podia falar sem uma voz embargada, ela levantou os olhos.

"Qual o seu nome, querida?"

"Sky".

"Não, seu nome verdadeiro".

"Eu não devo..."

"Diga-me seu nome verdadeiro".

A garota olhou para o homem no chão, temerosa de que ele pulasse na sua garganta e, então, disse, "Susan".

"Qual seu sobrenome, Susan?"

"Granger".

"Susan Granger?"

"Sim".

"Quantos anos você tem, Susan?"

"Catorze".

"Catorze? Você fugiu de casa?"

Os olhos da menina se encheram de lágrimas.

"Sim".

"Bem, eu e outras pessoas vamos ajudar você", Keri disse. "Gostaria disso?"

A garota hesitou e disse, "Sim".

"Você não precisa se preocupar mais com este cara", Keri disse. "Ele não vai mais machucar você. Ele tem lhe obrigado a fazer sexo com outros homens?"

A garota assentiu.

"Ele tem lhe feito usar drogas?"

"Ah-hã".

"Bem, isso tudo acabou", Keri disse. "Vamos levar você para um lugar seguro, imediatamente. Entendeu?"

"Sim".

"Bom. Acredite em mim, você está segura agora".

Duas viaturas pararam perto delas.

"Os policiais em um destes carros vão levá-la a um lugar seguro para passar a noite. Você se encontrará com um conselheiro pela manhã. Vou lhe dar meu cartão e quero que o use se tiver qualquer dúvida. Estou procurando por uma garota desaparecida mais ou menos de sua idade. Mas assim que encontrá-la, vou voltar para checar se você está bem, certo, Susan?"

A garota assentiu e pegou o cartão.

Enquanto os policiais a levavam, Keri se inclinou para perto do cafetão, ainda estatelado no chão, e sussurrou, "Estou usando todas as minhas forças para não atirar atrás da sua cabeça. Você entende o que estou dizendo?"

O homem virou o pescoço, olhou para ela e disse, "Vá se foder".

Apesar de seu cansaço, o corpo de Keri vibrava de raiva. Ela se afastou sem responder, com medo de fazer exatamente o que lhe havia prometido. Os policiais uniformizados se aproximaram. Enquanto um agarrou o criminoso para colocá-lo no carro, Keri falou com o outro.

"Preencha a ficha dele. Não permita que ele faça sua ligação por pelo menos algumas horas. Não quero ele pagando fiança antes de podermos colocar a garota num lugar seguro. Estarei lá para escrever meu relatório depois de dormir algumas horas".

Ela viu o outro policial abaixar a cabeça do cafetão para entrar no banco de trás da viatura e se aproximou.

"Deixe-me ajudar com isso", ela ofereceu, agarrando o homem pelo cabelo e batendo a cabeça dele contra o teto do veículo. "Ah, desculpe, eu escorreguei".

Keri voltou para seu carro. O som dos xingamentos dele ao longe pareciam uma música suave para ela.

Enquanto dirigia para casa, finalmente indo para a casa-barco, ela ligou para um número para o qual raramente ligava.

"Alô", respondeu, sonolenta, uma voz feminina.

"Aqui é Keri Locke. Preciso falar com você".

"Agora? São quatro da manhã".

"Sim".

Uma pausa e, então, "Certo".

CAPÍTULO VINTE E UM

Terça-feira

Pouco antes do amanhecer

"Estou colapsando". Ela imaginou o desapontamento que sabia estar no rosto de sua psiquiatra designada pelo departamento, Drª Beverly Blanc.

"Como assim?"

Keri explicou, colocando tudo para fora de uma só vez.

Ela estava vendo o rosto de Evie em todo lugar. Não parava de pensar nela. Talvez, porque a marca de cinco anos estava chegando, na semana que vem. Ela não sabia. Só sabia que estava acontecendo, mais frequentemente que em qualquer outro momento, desde os primeiros seis meses após o rapto. Ela não tinha tido nenhum branco em seis meses. Mas agora, havia tido vários episódios de "apagar" nas últimas 12 horas. Pior, ela se tornou violenta. Bateu na cabeça de um garoto do ensino médio. Lançou um microfone na cabeça de outro cara. E havia confrontado deliberadamente um traficante e um cafetão.

Ela tinha uma pista de que Evie talvez tenha sido levada por alguém cujo codinome era "O Colecionador". Um advogado local, Jackson Cave, pode saber o nome verdadeiro do homem e seu paradeiro, mas nunca diria a ninguém voluntariamente.

Além disso, ela estava trabalhando no caso Ashley Penn.

"Eu sei", Drª Blanc disse. "Vi você na TV".

Ela estava no caso, então, foi afastada, em seguida, voltou para ele; agora, ela não sabia qual seu status.

Drª Blanc disse: "Você está absorvendo mais do que pode processar. Está como um balão com muito ar sendo bombeado para dentro dele. Se não parar, você vai explodir. Precisa ou sair do caso Ashley Penn ou colocar Evie na espera. Pare de pensar nela até que este caso esteja resolvido".

Keri estremeceu.

"Não posso deixar o caso".

"Por que não?"

"Porque, se sair, e algo terminar acontecendo, não poderia viver sem me culpar".

A Drª Blanc deu um suspiro.

"Então, você tem que deixar Evie ir por ora. Precisa parar de se fixar nela. E você precisa fazer o mesmo com o Colecionador".

"Isso é impossível".

"Veja", Drª Blanc disse, "aqui está a realidade. Se Evie estiver morta..."

"Ela não está!"

"Certo, mas se ela estiver, deixar os pensamentos sobre ela de lado por um tempo não vai afetá-la, de uma maneira ou de outra. Se ela não estiver morta, então, provavelmente encontrou uma maneira de lidar com sua vida atual. O medo e desespero que você viu no rosto dela, no momento do rapto, não existe mais".

"Não podemos ter certeza disso", Keri disse.

"Sim, podemos", Drª Blanc disse. "Emoções como essas são insustentáveis. Se ela estiver viva, esteja onde estiver, o mais provável é que encontrou uma maneira de funcionar no dia a dia. Ela está em algum tipo de rotina. Ajustou-se a ela. Colocar o Colecionador e esse advogado de lado por uma semana ou duas não fará uma diferença significativa para Evie no grande esquema de sua vida.

"Na verdade, se você se apressar na caçada a esse tal Coleiconador, pode até mesmo cometer erros que você não faria mais tarde, quando estiver pensando direito. Você pode dar a dica a ele de que está vindo. Ele pode escapar. Então, limpe sua mente, pare de pensar no advogado também, e trabalhe no caso Ashley Penn se for isso que você tem que fazer. Depois, volte a ele quando estiver saudável e puder se centrar totalmente nisso. Faz sentido para você?

Keri suspirou. "Sim".

"Você também precisa descansar, Keri. O descanso é extremamante importante. Vá para casa e durma pelo menos oito horas. Considere isso ordens médicas.

"Posso tentar, talvez, três horas".

"Fechado".

*

Keri foi para casa.

Nesse dias, "casa" era uma casa-barco de vinte anos de idade, em processo de deterioração, ancorada na Marina Bay, em Marina del Rey. Havia uma parte chique da marina mais a oeste, com luxuosos prédios de apartamentos e iate clubes. Mas a Doca H, onde Keri vivia, era muito mais classe operária. A casa dela ficava entre barcos de pesca industriais e embarcações quase gastas demais para navegar, dos mais antigos. O dono anterior a havia batizado de Sea Cups, e pintado à mão um sutiã rosa num dos lados. Não fazia exatamente o estilo de Keri, mas ela nunca conseguiu arranjar tempo ou energia para raspar o desenho.

A boa notícia é que tinha eletricidade, água, uma pequena cozinha, e banheiro com sistema de bombeamento, e não a mantinha presa a nada. Ela podia abandonar seu "lar" sem pensar duas vezes e fugir para o Alasca, se sua vida exigisse isso, de repente. A má notícia é que não tinha chuveiro ou lavanderia. Essas tarefas precisavam ser feitas no final da estrada, na estação de apoio da Marina, ou no trabalho.

Também quase não tinha espaço. Tudo estava no caminho de alguma outra coisa. Se você quisesse um objeto, tinha que mover três. Para pessoas com casas, a ideia de viver numa casa-barco pode parecer uma aventura, ou algo exótico. Para alguém como Keri, que, na realidade, fazia isso todo dia, o charme já havia se dissipado há muito tempo.

Keri foi até a cozinha, serviu para si uma generosa dose de uísque e se dirigiu para o deck, no teto. Enquanto subia a escada, viu que uma foto na parede estava torta. A casa-barco não balançava muito, mas, às vezes, ela se movia o bastante para fazer as coisas mudarem de lugar ou caírem. Ela endireitou a foto, olhando, mas sem processar realmente o que via.

Após um momento, percebeu que estava olhando para o que costumava ser sua família. Era uma daquelas fotos posadas na praia que eles haviam tirado na época de pré-escola de Evie. Estavam sentados ao lado de algumas pedras, com o oceano ao fundo. Evie estava na frente, com um vestidinho branco. Seus cabelos loiros eram mantidos fora dos olhos por uma faixa de cabelo verde que combinava com seus olhos.

Keri e o marido estavam atrás dela. Stephen vestia calças cáqui e uma camisa branca fora da calça. Keri estava vestida de modo parecido, numa blusa branca leve e uma saia cáqui. Stephen tinha uma mão nos ombros de Evie e a outra em volta da cintura de Keri. Essa lembrança de sua intimidade casual passou como um flash pela sua mente. Havia se passado um longo tempo desde que alguém a havia tocado daquela maneira confortável, conhecida.

Ela lembrou que havia sido difícil não espremer os olhos naquele dia, porque a sessão de fotos era de manhã, e o sol forte do início do outono estava bem nos olhos deles. Evie reclamou sobre isso, mas de algum modo conseguiu abrir bem os olhos para esta foto específica. Keri não pôde deixar de sorrir com a lembrança.

Ela deixou a foto para trás enquanto subia as escadas até o deck, e se acomodava numa espreguiçadeira barata que havia comprado da Amazon, por impulso. Fechou os olhos e tentou sentir o movimento quase imperceptível da casa-barco. A foto passou por sua mente novamente. A Keri Locke daquela época não a reconheceria agora.

A foto tinha sido tirada quase quatro anos antes de levarem Evie. Olhando para trás, aquela vida foi a mais perfeita que Keri chegou a ter. De algum modo, ela havia sobrevivido a uma infância que não desejaria a ninguém para se tornar uma bem-sucedida professora universitária de criminologia e psicologia na LMU. Era uma consultora respeitada pela LAPD. Era casada com um proeminente advogado da área de entretenimento, que nunca deixava seu trabalho interferir com um recital da pré-escola ou festa de Halloween.

E ela tinha uma filha que a fazia ver cada dia que ser criança não tinha que envolver trauma. Podia se tratar de admiração e alegria. Era uma época com canteiros de abóbora para visitar e cookies com gotas de chocolate para preparar juntas. Com domingos em que eles podiam fazer amor de maneira furtiva, apressada, antes que pequenos pés pudessem ser ouvidos galopando até o quarto. Ela era feliz e nem percebia o quanto.

A Keri do passado ficaria horrorizada com a atual, bebendo goles de uísque como se fosse água, sozinha numa casa-barco batizada com um tamanho de sutiã. Ela tentou relembrar como tudo se despedaçou. Primeiro, veio a bebedeira para esquecer, então, as brigas aos gritos com um marido que se tornou frio e distante. Keri sabia agora que havia sido uma forma de auto-proteção, uma maneira que Stephen encontrou para sovreviver ao pesadelo acordado que eles compartilhavam, para mantê-lo a um braço de distância. Mas, na época, isso a deixava furiosa, fazia-a pensar que ele não ligava para o que aconteceu com a filha deles.

Depois que ele finalmente saiu de casa, um ano depois, a casa parecia tanto vazia quanto cheia de lembranças, então, ela se mudou para a casa-barco. Ela também foi passando de mão em mão, de um homem a outro, na universidade. Às vezes, eram os formandos, às vezes, estudantes da graduação — quem quer que estivesse disposto a fazê-la se sentir bem por alguns poucos momentos e ajudá-la a esquecer a angústia que consumia a maior parte de suas horas acordada.

 

Isso continuou por cerca de um ano, até que um rapaz de 19 anos especialmente ingênuo, apaixonado, largou a faculdade porque Keri havia casualmente seguido em frente. Seus pais ameaçaram processar. A faculdade, de origem jesuíta, não teve escolha a não ser resolver as coisas rápida e silenciosamente. Parte do acordo era a demissão de Keri.

Foi por volta dessa época que Stephen lhe contou que ia se casar com uma de suas clientes, uma jovem atriz com um faturamento de seis dígitos, que atuava num drama médico. Eles iam ter um bebê, um menino. Keri passou por uma semana bêbada ao ouvir essa notícia. Foi pouco tempo depois que um ex-colega, um detetive da Pacific Division chamado Ray Sands, veio até o barco com uma proposta.

"Ouvi dizer que as coisas não estão indo como você esperava, ultimamente", ele disse, sentado no mesmo deck em que Keri estava curvada agora. "Talvez, só precise de um novo começo".

Ele contou a ela sobre sua própria descida em espiral pelo buraco do coelho, desesperado, e como ele conseguiu se arrastar para fora ao preferir parar de sentir pena de si mesmo e fazer a diferença com a vida que ele ainda tinha.

"Já pensou em se candidatar para a Academia de Polícia?" ele perguntou.

A marina estava em silêncio, a não ser pelo som das ondas lambendo os cascos dos barcos e um alerta de neblina distante, ecoando de maneira fúnebre na escuridão. Keri podia se sentir adormecendo e decidiu não lutar contra isso. Ela pôs seu copo de lado, puxou uma coberta sobre si e fechou os olhos.

*

Seu sono foi interrompido pelo toque do celular. Olhou piscando para a tela, tentando diminuir sua visão embaçada. Eram 5h45. Ela havia dormido por menos de duas horas. Espremeu os olhos para ver quem estava ligando. Era Ray. Ela atendeu.

"Eu estava, finalmente, dormindo", falou, irritada.

"Acharam a van preta!"

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