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Capítulo Quatro
Estremeci. Aquela era uma mãe com quem foi difícil lidar em situações passadas. Ea uma defensora das regras e já havia reclamado no balcão de circulação sobre vários clientes que haviam adormecido nas poltronas perto da lareira e pessoas na sala de informática consumindo bebidas sem tampa.
Todas as mães e a maioria das crianças se viraram quando a ela perguntou sobre os gatos. Em resposta, liguei rapidamente a máquina de bolhas e o tocador de CD na esperança de criar uma distração, pedi licença e saí da sala. Felizmente, o pai que estava na sala de informática apareceu naquele exato momento para buscar a filha.
– Obrigado! – disse ele, a gratidão no olhar. – Encontrei um anúncio interessante, então vou ligar e ver se consigo uma entrevista.
– Que ótimo! Ela adorou as histórias. E se comportou muito bem.
Enquanto ele levava a filha embora, falei em voz alta: ‘Já volto’ para as mulheres na sala de leitura, sem ter certeza se isso era verdade.
– Como eles estão? – perguntei, me inclinando para espiar as caixas. Não pude evitar, a visão daqueles focinhos peludos me fez sorrir. O surpreendente foi que ambos pareciam muito tranquilos.
A veterinária sorriu. – Estão ótimos. O laranja é o gato mais amigável e descontraído que já vi. E a malhada é um doce. Eles quase me fazem esquecer que já tenho quatro gatos em casa. – Ela franziu a testa. – Tudo bem eu tê-los trazido aqui? – Ela olhou para o grupo de mães através da porta.
– Ah, não tem problema. Vamos manter os dois aqui até descobrirmos o que fazer. Um cliente acabou de me contar que pertenciam a uma senhora idosa que faleceu.
– Não encontrei nenhum microchip, mas ambos pareciam bem alimentados e saudáveis. E temos um bônus! Ambos parecem ser treinados para usar a caixa de areia.
– Ouvi dizer que a Sra. Brennon sofreu um acidente de carro há algumas semanas. Então eles estão sozinhos há pouco tempo.
– Do ponto de vista médico, ambos estão em ótima forma. Apliquei as vacinas e estão tratados. Acho que o dono ainda não tinha conseguido fazer isso. A mamãe gata, porque acho que ela é a mãe do gato laranja, vai precisar ter cuidado com a pata quebrada, mas conseguiu se firmar bem e não prevejo nenhum problema.
– Perfeito. Obrigada. Venha, vou abrir a porta da sala de convivência e os manteremos aqui. Quero deixá-los sair quando tiver oportunidade para ajudá-los a se ambientarem. Mas preciso encerrar a hora da história. Pode deixar as caixas que eu devolvo mais tarde? – perguntei, afastando uma mecha de cabelo dos olhos. Ótimo. Agora eu estava suando.
– Por mim, tudo bem, tenho uma tonelada delas. E mais uma vez, obrigada.
Voltei para a sala dando a todos um sorriso tímido. – Desculpem.
A mãe alta voltou a perguntar: – Ei, eram gatos?
Abri um sorriso como se gatos povoando a Biblioteca Whitby fosse algo comum. – Sim, eram gatos. Que tal ouvirmos outra música? E fazer mais algumas bolhas?
Agora eu podia dizer que a hora da história foi completamente arruinada.
– Podemos ver os gatos? – perguntou a mãe. – A propósito, meu nome é Lisa. Sei que já conversamos antes, mas acho que não me apresentei.
Fiquei admirada. Presumi que ela estava perguntando sobre os gatos porque queria reclamar da presença deles. – Vê-los?
Uma mãe loira, de estatura pequena disse: – Minha filha adora gatos. Você poderia trazê-los para a sala?
Neguei com a cabeça. – Sinto muito, mas eles tiveram alguns dias difíceis. – Fiz um breve resumo do resgate traumático dos gatos. – A veterinária acabou de trazê-los da clínica. Um deles está com a pata quebrada e precisa ficar de repouso.
Lisa disse em tom decisivo: – Sabe o que você devia fazer? Deixá-los ser gatos de biblioteca. Ou pelo menos um deles.
A mãe loira se virou e disse: – Isso seria tão legal. As crianças podiam afagar os gatos e ler histórias para eles. É algo viável em uma biblioteca, não é? É tão aconchegante. Um gato, um monte de livros e uma lareira. Parece o paraíso!
– Não acho que isso seja algo que a biblioteca esteja considerando no momento – falei em tom suave, mas senti um aperto no peito. Wilson era o chefe, mas eu esperava que ele mudasse de ideia sobre ter um ou dois gatos na biblioteca. Havia algo naqueles dois que realmente tocou meu coração.
– Então você está procurando um lar para eles. Bem, vamos considerar adotar pelo menos um deles, com certeza. Pobrezinhos. E também queremos adotar um gato adulto. São treinados para usar a caixa de areia? – perguntou Lisa.
Aquilo era algo que eu nem havia considerado… treinamento para usar a caixa de areia. E, do jeito que terminou o encontro às cegas na noite passada, os gatos foram forçados a sair dos meus pensamentos. Pelo menos tinha sobrado um pouco de areia e comida que um dos clientes havia trazido ontem à tarde.
– A veterinária disse que ambos usaram a caixa de areia enquanto estavam na clínica. Para ser honesta, não temos suprimentos, pelo menos não o suficiente. As últimas vinte e quatro horas foram bastante caóticas – admiti.
Lisa não fez nenhum julgamento sobre o meu comentário, mas entrou em ação. – Muito bem, vamos fazer o seguinte: Janine, pode cuidar de Sarah para mim, certo? Vou até a loja e comprar tudo o que está faltando.
– Não precisa fazer isso – falei, mas ela já estava deixando a sala em direção à saída da biblioteca.
A mãe loira, que aparentemente era Janine, levou a pequena Sarah para brincar com o filho nos computadores da seção infantil. A hora da história estava oficialmente encerrada, então voltei para ver os gatos.
Esperava que tivessem usado a caixa sanitária antes de saírem da clínica, porque eu queria deixá-los sair da sala para se acostumarem com o novo ambiente. Mas antes, imprimi uma placa de alerta na porta da sala para avisar que os gatos estavam soltos e para tomarem cuidado para não deixá-los fugir. Eu não tinha intenção de fazê-los vagar pela biblioteca enquanto estivessem em um lugar desconhecido e pudessem fugir.
Ajoelhei no chão, falando em tom suave. Ambos pareciam indiferentes à situação atual. Abri primeiro a porta da caixa do gato laranja, que saiu ronronando e se esfregando em mim. Em seguida, pulou no meu colo enquanto eu erguia a cabeça para ele se aninhar no meu pescoço. Não pude evitar. Estava me apaixonando por aquela criaturinha.
Abri a porta da caixa da gata malhada e ela saiu miando com a mesma indiferença. Andava um pouco desajeitada com a perna engessada, mas parecia não estar sentindo dor.
Ambos passearam pelo salão por alguns minutos. Era um espaço confortável com cartazes de temática literária, mesas para os bibliotecários fazerem lanches ou almoçar, uma pequena geladeira, um micro-ondas, e algumas violetas africanas no parapeito da enorme janela que tinha vista para o gramado da frente da biblioteca. Fiz uma rápida pesquisa online para garantir que as plantas eram seguras para os gatos e suspirei aliviada. Depois de farejar e explorar o local, ambos se instalaram sob a luz do sol refletida no chão. Lamberam um ao outro durante vários minutos, se aninharam e por fim adormeceram.
Permaneceram assim até ouvir uma batida na porta. Contive um grinhido. A única pessoa que bateria à porta seria um cliente, não um bibliotecário. E isso era um sinal de que algo podia estar errado. Abri a porta e vi Lisa segurando várias sacolas enormes. Ela aparentemente recrutou algum cliente do sexo masculino para ajudá-la a descarregar o carro, e ele carregava mais sacolas.
– Obrigada! – agradeceu Lisa, sem se virar para encarar o homem. Ela percebeu para as caixas vazias e imediatamente olhou para o raio de sol. – Oh, eles são tão preciosos – sussurrou.
Os gatos ergueram a cabeça como se reconhecessem um elogio ao ouvi-lo. A gata malhada lutou para ficar de pé e cambaleou ronronando em direção a Lisa, que se apressou para que a gata não precisasse andar.
– Ah meu Deus. Este gata é incrível! Depois de tudo que passou, consegue ser tão mansa. Se fosse eu, estaria escondida em um canto em algum lugar.
Sorri para ela enquanto desempacotava as sacolas de compras. Vi que Lisa havia comprado ração de gato seca e úmida, brinquedos, camas e outra caixa sanitária. Quem quer que ela fosse, tinha um bom coração. E, aparentemente, bastante dinheiro.
– Faz algum tempo que meu marido e eu planejamos ir ao abrigo para adotar um gato – disse Lisa, enquanto acariciava a gata malhada. – Mas ainda não fomos até lá. Esta gata parece perfeita. O que sabe a respeito dela?
Balancei a cabeça: – Infelizmente, não tenho muita informação. Sei que o veterinário disse que ela não tem microchips. Outro cliente disse que os gatos pertenciam a uma senhora idosa que faleceu há pouco tempo. A gata foi vacinada, está medicada e deve ficar de repouso por alguns dias. Segundo a veterinária, é provável que seja a mãe do gato laranja.
– Faço questão de reembolsar a biblioteca pelos cuidados médicos. Queria saber se meu marido e eu poderíamos levá-la para casa? – Ela me encarou com um olhar esperançoso, a mãe mandona de antes havia desaparecido.
Hesitei por um minuto. Eu sabia que Wilson queria os gatos fora da biblioteca o mais rápido possível. Lisa parecia ser uma pessoa responsável para cuidar de animais de estimação, na verdade, havia acabado de provar isso. E pensando bem, talvez fosse melhor para a gata se adaptar ao seu lar definitivo, em vez de se acostumar com a biblioteca para depois ser transferido novamente para outro lugar. Além disso, as duas pareciam estar se dando muito bem. A gata estava no céu enquanto Lisa fazia cócegas em seu queixo.
Sorri para ela. – Acho que seria perfeito. E não se preocupe com as despesas médicas, a veterinária não cobrou o atendimento. Preciso apenas que devolva a caixa transportadora na clínica assim que puder. O nome da veterinária está escrito na caixa. E, por favor, leve para casa algumas dessas coisas que comprou para os gatos.
– Obrigada! Como sabe, estou sempre por aqui, então vou lhe mantendo atualizada. E darei a ela um nome literário que honre o tempo que passou na biblioteca.
– Que ótimo!
Wilson enfiou a cabeça pela porta da sala e piscou surpreso para os dois gatos e Lisa, qu ergueu o olhar. – Estou de saída, prometo. E levarei um dos gatos comigo.
– Isso é ótimo – disse Wilson, aliviado. Ele baixou o olhar para o gato laranja esparramado sob um raio de sol e disse: – A nova bibliotecária infantil chegou.
Excelente. – Qual é mesmo o nome dela?
– Luna Macon. Você poderia me fazer um favor e mostrar a biblioteca a ela? Tenho uma reunião e preciso sair agora.
Assenti com a cabeça e Wilson saiu.
Lisa acariciou mais uma vez a gata malhada e se levantou para abrir as persianas que davam privacidade à área de estar, separando-a do resto da biblioteca. – Uau – disse ela, lentamente e sorriu para mim enquanto fechava as persianas.
– Uau? – perguntei. Sempre fiquei impressionada com bibliotecários infantis, mas apenas em relação a desempenharem bem seu trabalho.
– Digamos que tenho a sensação de que a hora da história acaba de ficar um pouco mais legal. Sem ofensa – esclareceu Lisa.
– Não me ofendi – respondi automaticamente. Levantei também e afastei as persianas. Havia uma mulher que eu nunca tinha visto, nem na cidade de Whitby, nem na biblioteca. Ela tinha cabelos com mechas roxas, piercing no nariz e usava esmalte preto. Havia tatuagens aparecendo sob a blusa preta, mas a calça preta era longa o suficiente para cobrir tudo o que pudesse aparecer. Fechei depressas as persianas antes que ela pudesse se virar e me ver. Luna parecia estar trazendo o fator diversão para a Biblioteca Whitby.
– É melhor eu fazer o tour – disse, sorrindo para Lisa. Peguei um pedaço de papel e um lápis e anotei meu nome e telefone. – Se tiver algum problema ou mudar de ideia sobre ficar com a gata malhada, é só me ligar. Aqui está o número do meu celular. Se eu estiver trabalhando, posso demorar alguns minutos para retornar.
Lisa pegou o papel e o colocou no bolso. – Vou mantê-la atualizada, mas tenho certeza que ficaremos com essa coisa fofa.
Saí da sala, respirei fundo e me aproximei da mulher de meia-idade com um sorriso. – Luna Macon? – perguntei.
Ela se virou e me deu o sorriso mais caloroso e genuíno que já vi. Um dente de ouro reluziu. – Sim. Você deve ser Ann. Sinto muito por não ter aparecido hoje pela manhã. Que maneira de começar um trabalho, não?
– Não se preocupe. Acredite, isso acontece. Gostaria que eu lhe mostrasse a biblioteca?
– Adoraria. Não venho aqui desde que era adolescente e já faz um tempo, como pode perceber. – Ela deu uma risada contagiosa e não pude deixar de retribuir.
– Ah, você cresceu aqui? – perguntei, enquanto começávamos a caminhar em direção ao balcão de circulação.
– Sim. Depois me mudei para… a princípio para Nova York, depois para vários outros lugares, e voltei para Nova York. Minha mãe está com a saúde debilitada e é por esse motivo que estou de volta à cidade. E por isso me atrasei hoje de manhã. – Embora ela ainda estivesse sorrindo, pude ver que parecia cansada e estressada.
A primeira impressão que tive foi que talvez ela tivesse ficado acordada até tarde em alguma festa na noite anterior e dormido demais por causa de uma ressaca. Fiquei um pouco envergonhada por ter feito um julgamento precipitado. Apesar de tudo com que ela parecia estar lidando, era calorosa e descontraída. Definitivamente mais do tipo mãe terra. E gentil, pensei ao ver o brilho em seus olhos.
Fiz um tour rápido pela biblioteca e ajudei Luna a se ambientar. – A seção infantil é incrível e muito bem abastecida. Nancy Drew era minha série favorita quando criança e a Biblioteca Whitby tem uma enorme coleção disponível para empréstimo. Os clientes são ótimos. E você nunca ficará entediada. Não houve um dia de trabalho em que eu não tenha sido surpreendida por alguma coisa. – Achei que seria uma boa ideia contar que havia um gato na sala de convivência. – Ontem, por exemplo. Dois meninos vieram correndo pedir ajuda para resgatar dois gatos que estavam presos em um bueiro naquela tempestade.
Pela primeira vez, Luna franziu a testa: – Eles ficaram bem? Os gatos?
Assenti com a cabeça. – Um deles ainda está aqui. Atenção que tem um gato laranja na sala de convivência. Ele parece bem tranquilo apesar de ter quase se afogado e ter sido atendido por uma veterinária ontem à noite.
– E o outro gato? – perguntou Luna.
– Uma de nossas mães da hora da história entrou em ação, comprou um monte de coisas para os gatos e acabou levando a gata malhada para casa. A veterinária disse que ela deve ser a mãe do gato laranja.
– Parece que tenho um grupo legal para contar histórias – disse Luna, com um sorriso e de repente ergueu as sobrancelhas: – Humm. Não olhe agora, mas parece que você está sendo procurada pela polícia.
Capítulo Cinco
Quando me virei, vi Burton Edison se aproximando. Ele piscou, surpreso com a aparência de Luna e hesitou antes de lhe dar um sorriso.
– Pode me dar licença por alguns minutos? – perguntei. Luna deu uma piscadela atrevida para o chefe da polícia, que enrubesceu de leve, e depois caminhou em direção a seção infantil.
– Oi, chefe Edison.
– Por favor, me chame de Burton. – Ele se apressou em dizer. – Espero que esteja tendo um dia mais tranquilo do que ontem. – Seus olhos seguiram Luna enquanto ela desaparecia na seção infantil.
Apesar da história fragmentada e da visita repentina da veterinária, foi um dia mais tranquilo. O que provou o quão louco havia sido o dia anterior. Assenti com a cabeça. – Tem alguma notícia sobre o que aconteceu com Roger? – perguntei baixinho. Não porque eu estivesse tentando manter o silêncio na biblioteca, que estava sempre cheia de conversas animadas, exceto na área de estudo. Mas porque as vozes tendiam a chegar até lá. Algo relacionado com a acústica do local.
Burton deu uma risada irônica. – Quem dera. Provavelmente vai demorar um pouco para chegar ao fundo desta questão. Mas eu estava de passagem e pensei em entrar para finalizarmos os detalhes da aula de defesa pessoal.
Balancei a cabeça, abrindo o aplicativo do calendário de eventos da biblioteca que mantinha no celular. – Quer fazer isso logo? Um evento foi cancelado e a sala comunitária estará disponível dentro de alguns dias depois das 17h. Seria na segunda-feira. Sei que está muito próximo e você pode precisar de mais tempo para se preparar. Ou talvez a investigação do assassinato possa estar tomando grande parte do seu tempo.
– Uma aula de autodefesa é algo que posso fazer até dormindo. Por mim, tudo bem. Preciso manter uma rotina regular, mesmo com uma investigação em andamento. Acredite, não presto sem me alimentar bem, ter uma boa noite de sono e ocupar meu tempo. Vamos agendar.
Hesitei: – Não quero que desperdice seu tempo. Sei que deve estar bastante ocupado tentando fazer seu trabalho. E não tenho certeza se teremos muitos interessados, já que não terei muito tempo para divulgar o evento.
– Não tem problema. Mesmo que tenha apenas um ou dois participantes, valerá a pena. É algo pelo qual sinto paixão em fazer – disse Burton, e em seguida hesitou. – Já que estou aqui, há algo que gostaria de falar com você.
– Claro – falei, apontando para uma mesa e cadeiras próximas. – Quer se sentar?
Nos sentamos e Burton começou: – Percebi que você passou algum tempo conversando com Heather, a irmã de Roger Wilson. Não me importo de dizer que quando conversarmos, ela manteve o silêncio. Não sei se ela simplesmente não gosta da polícia ou algo assim, mas tudo que consegui arrancar dela foi que Roger era um irmão dedicado.
– Talvez o relacionamento deles se resumisse a isso. Ela me disse praticamente a mesma coisa.
– Veja bem. Sei que ele é solteiro, assim como eu. Mas tenho fotos de família na minha casa. Algumas delas foi minha mãe ou minha cunhada que me deram. Assim como cartões de Natal e coisas do tipo. E na geladeira tenho desenhos meus como um homem de palito com uma cabeça enorme feitos pela minha sobrinha e meu sobrinho. Eu… representado por um homem de palitos! – Burton olhou com tristeza para o corpo definido.
– Entendo onde você quer chegar. Se Roger ser um irmão tão amoroso, você imaginou encontrar algum tipo de evidência na casa dele que comprovasse isso. Coisas que mostram que ele interagiu com a família e comemorou feriados ao lado deles.
Burton assentiu.
– Gostaria de poder lhe contar mais sobre o relacionamento deles. Embora eu me lembre de ter visto Heather com bastante frequência na biblioteca, não a conheço. E não conhecia Roger. Mas posso lhe dizer que Heather me contou sobre uma pessoa que poderia estar bem irritada com Roger. Aparentemente, uma de suas ex-colegas de trabalho o culpou por não ter conseguido uma promoção. E depois foi demitida ou dispensada ou algo assim, e de alguma forma pensou que ele também era culpado por isso.
Burton pegou um bloco e estava fazendo anotações com uma caligrafia muito elegante. – Lembra o nome dessa mulher?
Pensei por um segundo. – Mary, eu acho. Não consigo lembrar o sobrenome, mas ela trabalha no salão de bronzeamento do shopping.
Burton ergueu as sobrancelhas. – Considerando que sabemos que Roger era conselheiro de investimentos, isso parece uma grande redução no salário. Não admira que ela esteja com raiva. Muito bem, obrigado pela informação. Vou investigar. – Ele bateu o lápis no bloco e disse: – Outra pergunta. Conhece algum Nathan Richardson?
Franzi a testa. – Sim, eu o conheço. Ele está bem?
Burton imediatamente adotou uma postura mais calma. – Tenho certeza que sim. Quero fazer algumas perguntas a ele, apenas isso. Parece que pode ter tido uma briga com a vítima. Parece algo viável?
– De jeito nenhum. Ele foi meu professor de inglês e ainda mantemos contato. Na verdade, eu o visito quase toda semana. Não consigo imaginá-lo brigando com ninguém. Você tem mais alguma informação?
Ele fechou o caderno e disse: – Na verdade não. É apenas algo que preciso checar.
Claramente, aquele foi o fim das perguntas sobre Nathan. Senti um nó no estômago. Eu teria que entrar em contato com ele e descobrir o que estava acontecendo.
Burton olhou para as estantes e observou. Ele se levantou da mesa e foi pegar um livro sobre história militar da Segunda Guerra Mundial, An Army at Dawn, de Rick Atkinson.
– Boa escolha – falei, apontando para o livro. – É muito bem escrito.
– É mesmo? – perguntou Burton, folheando o exemplar.
– Ganhou o Prêmio Pulitzer. E faz parte de uma trilogia, então se você gostar da leitura, tem mais dois volumes disponíveis.
Ele assentiu. – Gosto de ler à noite, antes de dormir. Principalmente não-ficção.
– Então está no lugar certo. Tem um cartão da biblioteca?
Burton enrubesceu e deu uma risada estranha. – Não! Achei que ia sair daqui levando isso. Sou um chefe de polícia.
Sorri. – Não há problema em ficar distraído em meio a tantas coisas acontecendo. Farei um cartão para você. Prometo que levará apenas alguns minutos. – Mais uma vez, lembrei de tê-lo julgado como um policial arcaico de cidade pequena do interior e afastei o pensamento. Apesar da aparência, ele era tudo menos isso.
Burton pigarreou enquanto eu emitia o cartão da biblioteca e fazia a retirada do livro: – Sua bibliotecária é bem diferente da maioria dos moradores que vi aqui em Whitby.
– Luna? Ela começou hoje. Não vem a Whitby há algum tempo, mas está na cidade para cuidar da mãe que está doente.
– Então ela está aqui apenas temporariamente? – perguntou com cautela.
– Na verdade não. Pelo menos, não foi o que entendi. Ela é a nova bibliotecária infantil e o cargo não é uma posição temporária.
Fiquei um pouco confusa sobre o interesse de Burton. Será que achava que Luna parecia uma pessoa envolvida no caso? Achava que ela parecia o tipo que causa problemas? Mas então o vi seguindo-a com o olhar enquanto ela caminhava até a sala de informática. Estava interessado em Luna? Interessado de forma romântica? Escondi um sorriso. Eu jamais teria imaginado os dois juntos. Burton parecia a personificação da lei e da ordem e Luna, um espírito livre. Percebi que ele desviou o olhar quando viu que eu o estava observando.
– Obrigado – disse, apressado, agitando o livro no ar. – Vejo você em breve.
Balancei a cabeça de modo distraído, ainda pensando que precisava divulgar a aula. Embora Burton não parecesse se importar com a ideia de dar uma aula com baixa frequência, eu não queria ser a única a aparecer.
Luna caminhou em minha direção, sorrindo: – A propósito, aquele gato laranja é incrível. Qual é o plano para ele? Encontrar um lar adotivo?
– Está interessada em ter um gato? – perguntei, esperançosa. – Ou talvez, sua mãe?
Luna riu. – Gostaria de poder levá-lo! Minha mãe adora gatos, mas está ocupada demias com o que tem. Além disso, não é um gato que interage bem com outros. E estou morando com minha mãe. Se não estivesse, adoraria ficar com ele.
– Espero que Wilson mude de ideia sobre mantê-lo aqui. Acho que seria incrível para a biblioteca.
– Qual o problema? – perguntou Luna, intrigada.
– Não acho que ele goste muito de animais. E acho que tem receio que um gato possa causar problemas na biblioteca. De qualquer forma, vou afixar alguns panfletos com foto e ver se conseguimos encontrar um bom lar para ele.
– Aposto que ele vai mudar de ideia. Esse gato é como uma boneca de pano. Vai se aconchegar ao lado dos clientes e reduzir o nível de estresse coletivo. – Ela olhou para fora e viu Burton entrando no carro. – Se não se importa, posso perguntar qual foi o problema com o policial?
Infelizmente, Burton não parecia estar no radar de Luna no sentido romântico. Uma pena.
Respirei fundo para responder a pergunta. – Ontem foi um dia horrível. – Contei a Luna, de forma resumida o que tinha acontecido depois que saí da biblioteca.
Ela deu um assobio baixo. – Esse é o pior encontro de que já ouvi falar. Você está bem?
– Sim, foi apenas um choque. Estou mais preocupada com a família de Roger. E com as pessoas que estão sob suspeita. – Minha mente se voltou para meu ex-professor e falei: – Com licença, preciso dar um telefonema rápido. E você não deveria estar no horário do almoço?
Luna semicerrou os olhos para o relógio de parede e saiu correndo. – Caramba. Te vejo mais tarde.
Entrei no meio das estantes para fazer a ligação. Nathan atendeu de imediato.
– Ann?
– Oi. Estou no trabalho, mas queria falar com você bem rápido. Você já… Conhece Roger Walton?
Houve uma pausa do outro lado da linha e então Nathan respondeu com a voz cansada: – Conheço. E acho que sei por que está me perguntando isso. O chefe de polícia me ligou hoje de manhã e quer falar comigo esta tarde. Fiquei sabendo da morte de Roger. Não tive nada a ver com isso, Ann.
A tensão em sua voz me deu uma pontada no coração. – Claro que não! – me apressei em dizer. – Ninguém seria capaz de pensar que você seria capaz de fazer isso. – Este era o mesmo homem que colocava os alunos para memorizar e recitar o prólogo de Os Contos de Canterbury em inglês arcaico. Era impossível que tivesse esfaqueado alguém com um espeto de grelha.
Ele deu uma risada irônica. – Temo que sim, Ann. De qualquer forma, posso mantê-la informada depois de falar com ele. Por que não vem jantar comigo? Por volta das 18h30, se estiver livre.
Aquilo era algo normal para nós. Ele me convidava para jantar em sua casa e eu sempre me oferecia para levar comida chinesa. Não apenas por ser sua comida favorita, mas porque suas refeições desde a morte da esposa se resumiam a pizza e congelados de micro-ondas.
– Perfeito! – concordei, e hesitei por um momento. – Talvez devesse pedir a um advogado para acompanhá-lo. Apenas por precaução.
Nathan disse em tom gentil: – Não tenho nada a esconder. Embora, infelizmente, também não tenha um álibi, já que moro sozinho. A menos que o Sr. Henry possa testemunhar.
Ouvi um latido do pequeno Yorkshire terrier quando Nathan disse seu nome e sorri. – — Vejo vocês às 18h30.
Desliguei e me espreguicei para aliviar a tensão dos ombros. Sempre gostei de Nathan, mesmo quando era estudante. Mas depois que minha tia morreu, há alguns anos, ele se tornou quase meu avô postiço e eu não queria que ele fosse considerado suspeito de uma investigação de assassinato.
Passei os últimos minutos até meu horário de almoço com uma cliente inexperiente em informática que estava tentando pesquisar o tipo específico de câncer da irmã. Consegui obter algumas fontes confiáveis do Instituto Nacional do Câncer e da Sociedade Americana do Câncer, e imprimi para que ela pudesse ler com calma mais tarde. Em seguida, entrei na sala de convivência para pegar meu almoço e minha bolsa. Normalmente eu almoçava na biblioteca, mas hoje tinha outros planos.
Luna estava saindo da sala enquanto eu entrava e me deu uma piscadela. Olhei confusa para dentro da sala e vi Wilson sentado em uma cadeira com o gato laranja ronronando como um louco em seu colo.
Contive um sorriso e agi como se não fosse uma cena surpreendente.
Wilson perguntou de forma ríspida: – Por que não escolheu um nome para este gato? É ridículo continuar chamando-o de ‘gato’ ou ‘gato laranja’. Isso faz com que eu me sinta com cinco anos de idade.
– Bem, estava tentando evitar me apegar demais ao gato. Devido às circunstâncias.
– Que circunstâncias seriam essas? – perguntou Wilson, me olhando carrancudo.
Juro que às vezes ele me fazia sentir como se eu estivesse enlouquecendo. – Que estamos tentando encontrar um bom lar adotivo para ele.
– Não não. Não vamos fazer isso. Este gato será puro ouro em termos de marketing, Ann. Ouro, estou lhe dizendo. – O gato laranja estendeu a pata e bateu a cabeça de forma carinhosa no queixo de Wilson.
Abri a boca e fechei-a novamente. Wilson parecia estar encantado.
– Preciso que descubra o que podemos fazer para ajudar a eliminar o problema da alergia – disse Wilson.
Assenti, tirando meu almoço da geladeira.
– Estou falando sério. Pode fazer isso agora?
Sentei e peguei o celular. – Sim, já estou fazendo. – Poucos minutos depois falei: – Parece que aspirar com filtro HEPA ajuda. Este artigo também menciona a remoção de carpetes e cortinas, mas já fizemos isso. – Wilson havia feito uma reforma há alguns anos e mandou retirar o velho carpete manchado e as cortinas. O resultado final foi um espaço bem iluminado e confortável, apesar de mais barulhento.
– Algo mais?
– Filtros. De acordo com o artigo, filtros nas aberturas de ventilação também são úteis. – Guardei o celular e comecei a caminhar até a porta, com o almoço.
Aparentemente, Wilson ainda estava perdido em seu próprio mundo. Mundo esse que girava em torno dos felinos. – E quanto ao nome? Ele precisa de um nome.
– Que tal pedir ajuda aos clientes quando eu voltar do almoço? – perguntei, olhando para a porta.
Wilson estalou os dedos. – Um concurso! Faremos um concurso! Vamos colocar cartazes na biblioteca e postar nas redes sociais. É tudo uma questão de engajamento, Ann. Precisamos manter a comunidade engajada.
– É uma excelente ideia, Wilson. Vou providenciar tudo agora mesmo.
Corri para sair da sala e soltei um suspiro de alívio. Quando Wilson se envolvia em um projeto, não havia como prever a minha lista de tarefas. E agora, eu precisava fazer outra coisa. Queria conhecer Mary, a ex-colega de trabalho de Roger. Sabia que ela também estava na lista de pessoas que Burton pretendia interrogar, mas a minha conversa seria mais casual. Não queria que Mary suspeitasse de nada. Entrei no carro e dei algumas mordidas no sanduíche de queijo apimentado.
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