Читать книгу: «Um Quarto De Lua», страница 2

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- Não vejo a hora de mostrar-vos tudo - concluiu Libero, no fim da descrição da fazenda, dirigindo-se aos primos.

- Tens certeza que não queres ficar alguns dias antes de partir? - procurou saber Giulia.

- Não posso deixar a mamã sozinha neste período, há muito trabalho por fazer.

- Tens razão Libero, és na verdade um excelente rapaz - elogiou Carlo dando-lhe uma palmadinha nas costas.

- Sabes tio, questionava-me sobre uma coisa no carro, antes de chegar na cidade pensava que a buzina nos automóveis servisse apenas em caso de perigo…

- Claro - respondeu Carlo - por quê?

- Porque parece que aqui a usam todos para fazer festa, não cessam por acaso de tocá-la!

Todos, excepto Elio, rebentaram de tanto rir questionando-se no fundo dos seus corações se Libero estivesse a zombar ou se era realmente assim…

Terceiro Capítulo

Apercebendo-se do seu terror, começou a rir

Na manhã seguinte a fazer cair da cama a Giulia foi Libero, tropeçando no tapete do corredor. É assim, ele e a tia, encontravam-se a tomar o pequeno-almoço antes que todos os outros acordassem. quando o cheiro do café inundou o quarto de Carlo juntou-se ele também e, junto da esposa, pôs-se a contar aquilo que estava a suceder a Elio.

- Nao fiquem assustado - lhes tranquilizou o rapaz - esta experiência fora de casa será benéfico para ele e depois a mamã já preparou um plano de ataque!

Na estação Giulia não fazia outra coisa que advertir os rapazes, para que se comportassem bem na casa da tia.

Gaia não estava mais na pele pela emoção e pela curiosidade, no momento em que, por hábito, via-se a uma légua como Elio tivesse sido arrastado naquela história. puxava a pesada mala de Gaia porque Libero o tinha forçado: “As senhoritas não carregam coisas pesadas!”, na verdade aquele seu primo o tinha cansado.

Libero, de jeans e camiseta, trazia também um chapeuzinho amarelo-escuro da proteção civil que para os primos parecia fora do lugar e levava todo o resto das bagagens como se tratasse de malas vazias.

O comboio deixou a estação na hora exacta. apenas eles os três ocupavam o compartimento. Libero arrumou as malas na apropriada prateleira e propôs:

- Gaia aproxima, vamos para o vagao-restaurante tomar outra vez o pequeno-almoço, chegaremos tarde na fazenda e tens de manter-se forte. Elio ficará a tomar conta das malas, has-de ver que ninguém vai se aproximar das nossas coisas. se for o caso rosna! - disse sorrindo dirigindo-se ao primo - E se não fazer cara feia vamos trazer alguma coisa comestivel tambem para ti…

Os dois primos sairam do compartimento para o grande alivio de Elio, desejoso para ficar sozinho.

fixava a paisagem fora a partir da janelinha sempre igual e si mesmo, mal tinham saido da zona industrial e eis finalmente viam-se os primeiros campos cultivados e mais ainda campos e mais campos e colinas e mais ainda colinas e campos.

De repente viu, um reflexo no vidro da janelinha, um senhor que estava sentado no assento da fila ao lado da sua, apenas depois do corredor.

Entrara quando no compartimento? Não ouvira a porta abrir-se.

O fulano estava vestido de preto e tinha uns pequenos óculos estranhos no nariz, estava a ler um livro encadernado em couro preto com as páginas de papel de seda, que parecia antigo por uma centena de anos. Tinha na cabeça um chapéu com abas largas que lhe cobria o rosto e é preciso dizer que metia inquietação.

Elio não virou, continuava e tê-lo de olho reparando o seu reflexo no vidro da janelinha. criava-lhe medo estar ali sozinho com aquele fulano. no momento quisera que o primo, muito robusto, regressasse o mais rápido para o compartimento, mas dele e de gaia nem sequer uma sombra.

no entanto o fulano continuava a ler, interrompia-se de vez em quando para reparar um antigo relogio que extraía do bolsinho do colete, vestido por baixo do seu fato completo de uma elegancia dos outros tempos.

Isto enervava posteriormente a Elio que se questionava do que estivesse à espera, devia ser certamente algo de importante para continuar a reparar o relogio todo o tempo.

depois, de repente, o fulano, depois de ter reparado mais uma vez o seu relogio, fechou o livro e baixou para pegar algo numa bolsa preta encostada no pavimento entre as suas pernas. as calças ligeiramente levantadas mostravam uns tornozelos pretos e subtis e umas estranhas peúgas que pareciam de pêlo preto.

Elio não conseguia conter a sua inquietação e começou a tremer. Eis que o fulano, apercebendo-se do seu pavor, começou a rir enquanto continuava a revistar na bolsa. Era uma risada profunda e lúgubre que ecoava nas suas orelhas e para não ouvi-la mais tapou os seus típanos com as mãos. Fechou os olhos para não ver no vidro o reflexo daquele homem e dentro de si rezou: “Faça que volte Libero, faça que volte Libero”.

A porta do compartimento abriu-se de repente.

- Elio, mas o que estás a fazer? Apanhaste sei lá uma otite da cidade? Nao quererás por acaso acabar connosco pobres campesinos com este virus dos citadinos!

Elio teve um sobressalto, depois, reconhecida a voz jocosa do primo, voltou-se e viu na porta Libero que fartava-se de rir com uma saqueta e uma bebida na mão, atras dele estava Gaia que dava dentadas a um croissã enorme.

Do fulano nenhuma peugada, como tinha aparecido assim tinha desaparecido. desaparecido ele, o seu livro, o seu relogio e a sua bolsa.

Libero sentou-se ao lado dele e deu-lhe um croissã e notou que estava a tremer.

- Aconteceu alguma coisa? - questionou-lhe.

- Creio que seja uma pequana má-disposiçao por causa do comboio- mentiu Elio.

Gaia percebeu que o seu irmão estava a ter uma das suas crises e propôs-se de novo para falar em segredo com Libero.

O resto da viagem foi tranquilo. Libero descreveu aos rapazes a festa da ceifa que se realizaria dentro de pouco tempo e envolvia todas as aldeias vizinhas. Efectuar-se-ia ao ar livre com danças tradicionais, como a tarantela, e nao só também danças modernas.

Elio olhava a irmã e o primo e se questionava como teria feito aqueles dois para sintonizar-se tao cedo no mesmo canal. mas estava feliz nao estando a viajar sozinho, todos aqueles acontecimentos estranhos começavam a preocupá-lo. era vitima de uma conspiração ou devia começar a duvidar da sua integridade mental?

Libero agitou-se, era hora para preparar-se para descer, tinha visto da janelinha a casa da senhora Gina que tinha tomado como ponto de referencia. o comboio parou, ele carregou todas as malas enquanto Gaia abria a porta do vagao, e lançou-se para fora, agitava-se como quem, como ele, viajava poucas vezes.

Os habitantes do local a chamavam estação, mas era apenas uma paragem. únicas comodidades uma marquesa com o tecto com um buraco e uma maquina automatica para comprar os bilhetes, sempre quebrada, que dizia a todos os passantes “Fiquem atentos, a estação nao está vigiado, poderiam sofrer um roubo de esticão”.

Libero suspirou profundo e disse:

- Agora sim que se respira. Bem-vindos a Campoverde.

- Ja sinto o cheiro dos campos - notou Gaia - Nao é verdade Elio?

Elio nao sentia a diferença com a cidade e ergueu os ombros.

- Elio, tu carrega a mala de Gaia, eu levarei o resto - ordenou Libero.

Para Gaia esta atitude de cavalheiro, que em outros casos a teria importunado, feito com esta natureza, a divertia e estava no jogo. quiçá a sua avaliaçao inicial do primo tinha sido precipitada, nao era pois tao pateta…

Gaia e Libero passaram diante da maquina falante que pela milesima vez repetiu a mesma frase e sorrindo encaminharam-se para a passagem subterranea.

Elio teve que pegar com as duas mãos a enorme mala de gaia para descer as escadas da passagem subterranea e de novo para subir. isto arrasou-o.

nos ultimos degraus deu fundo a todas as suas forças, na convicçao de que a tia estivesse à espera deles para dar a sua mao.

Fora da estaçao, apenas o parque de estacionamento vazio estava à espera deles. Libero, com a prima ao seu lado, dirigiu-se para a esquerda para uma longa rua estreita e asfaltada perfeitamente. nas bermas da rua somente dois canais de agua a separavam dos campos de milho de uma parte e de trigo doutra.

elio, desesperado, no momento em que recuperava o folego, gritou para eles esperam por mim. a irmã virou perturbada, nao ouvia o irmão falar em voz alta há anos, muito menos para imaginar a gritar daquele jeito.

- Onde está a ajuda da tia? - perguntou Elio.

- Ah, estava a esquecer, telefonou para mim antes, disse que nao poderia vir porque Camilla, a nossa vaca, deve parir de um momento para o outro e nao pode distanciar-se.

- Camilla, parir? E agora, como faremos? - interrogou Elio ofegando.

- Fique tranquilo, só quatro quilometros e ja estamos na fazenda - acrecentou Libero num tom tranquilizador.

- Quatro quilometros? - foram as ultimas palavras de Elio.

- Força! a mala da tua irma tem por acaso pequenas rodas! - zombou dele Libero e dizendo desta forma retomou a caminhada.

ao de longe começavam a vislumbrar-se as primeiras casas da aldeia.

- Ali está! aquela casa com a cerejeira é a nossa fazenda.

Libero apontou uma granja encarnada veneziana com partes verde-escuras. na parte frontal havia um lindissimo jardim, bem tratado, nas suas traseiras havia curral e o estendal para a roupa, mais adiante estendiam-se os campos.

- Mamã, chegamos! - gritou Libero largando as malas na pequena alameda e correndo para o curral.

a tia Ida saiu pela porta de casa.

- Os meus sobrinhos! - gritou de alegria.

Gaia atirou-se de braços abertos e abraçou-a. Elio aproximou-se estourado e deu-lhe, por educaçao, um beijo na bochecha.

Ida tinha acabado de completar os cinquenta anos, mas a beleza nao tinha ainda perdido a sua exiberancia embora ela nada fazia para pô-la em evidencia. era de uma altura média e magra, bem proporcionada, mas os seus braços e as suas pernas tinham musculos adelgaçados e fortes para fazer inveja a um atleta de corrida campestre. a vida dura da fazenda era o seu treinamento diario. tinha os cabelos loiros, que os tinha recolhidos em rabo de cavalo, a pele do rosto clara e uns lindissimos olhos verdes, como aqueles do neto.

no entanto Libero gritava alegre por ter regressado ao curral:

- Camilla teve uma femea! outro leite a chegar!

a tia os convidou para entrar, a mesa estava arrumada e pelo ar o bom cheiro do almoço pronto. os rapazes comeram famintos, Gaia nao cessava mais de contar as emoçoes da viagem à tia.

depois do almoço, Gaia ajudou a tia a arrumar a cozinha, enquanto Libero puxou o Elio numa passeata pela fazenda pedindo-lhe, ou melhor ordenando-lhe, para ajudá-lo em cada trabalho.

à noite a tia explicou a eles que teriam que dormir na sala de estar, no sofá-cama, até que nao teriam que arranjar o sotao que tornar-se-ia o quarto deles durante o verao.

Gaia precipitou-se pelas escadas atras da tia para dar uma olhadela. Elio, pelo contrario, estava assolado por mais uma má noticia.

subiram até ao andar onde havia os quartos da tia, do Libero e do ercole, o mais novo da casa que estava no campo de escutismo. Ida lhe indicou a pequena escada de madeira que conduzia até ao sotao, ela nao subira, estava cansada de fazer vaivem, tinha estado ja varias vezes durante o dia para abrir as persianas e fazer entrar o ar.

ao mesmo tempo, a tia dirigiu-se para o seu quarto para telefonar secretamente à cunhada Giulia, queria actualizá-la sobre a chegada dos filhos.

Giulia nao deixou tocar o telefone uma segunda vez.

- Olá querida, como estás? - perguntou Ida.

- Bem, mas conta-me como ocorreu.

- Consegiu chegar até aqui a pé a partir da estaçao sem desmaiar. pensava que eu estaria de carro à espera deles, como desculpa Libero lhe disse que a vaca Camilla devia parir - fartava-se de rir Ida.

- Gostaria de tê-lo visto suado!

- Depois do almoço - começou a relatar Ida, mas Giulia a interrompeu.

- Comeu alguma coisa?

- sim, limpou o pratro da entrada e a carne.

- Wow! na nossa casa nao dá que uma mordidela de uma sanduiche.

- é duro, nao fala - disse Ida - Mas verás que consiguiremos fazê-lo recuperar um bocadinho.

no fundo ouvia-se Carlo a perguntar e rir.

- TV e videojogos escondi-os, se tiver que ser remedio muito forte assim será.

Elio, deitado de forma extremamente inconveniente no sofá, nao lograva mover um musculo, há anos que nao se movimentava tanto assim.

na escola, com uma desculpa ou outra, conseguia mesmo saltar a hora da gunastica.

- Elio, anda, corre vai chamar a tua irma, preciso de ajuda para preparar o jantar.

Elio nao dava credito às suas orelhas, levantar-se lhe parecia impossivel.

Mas a tia, com tom de general que nao admitia resposta negativa, intimou:

- Elio, ouviste?

- Estou a ir - respondeu e com uma cara de fúnebre dirigiu-se para as escadas.

parou em baixo da escada de madeira e começou a chamá-la para descer.

Gaia, nao obstante os gritos do irmao, nao respondia.

ainda mais aflito, subiu as escadas. o semi-obscuro que provinha do sotao lhe causava ansiedade. um degrau depois do outro o trajecto lhe parecia infinito. chegado com a cabeça apenas por baixo do orificio rectangular, começou de novo a chamar, uma vez ainda respondeu o silencio. ganhou força e enfrentou os ultimos degraus. por cima algo lhe pegou o braço.

elio ficou paralisado, com os olhos fechados, o terror desenhou-se no seu rosto.

- apanhei-te! - exclamou Gaia que viu o irmao naquela condiçao.

- Larga-me idiota, deixou-me preocupado, nao podia responder.

Gaia nao colheu a provocaçao e visto que tinha ficado curiosa sobre aquilo que tinha achado disse:

- Este sotao está cheio de coisas estranhas. venha, olha o que te faço ver…

Elio terminou de subir e seguiu a irma que estava a folhear algumas fotos antigas.

- olha como é burlesco? - disse passando-lhe.

- O que é que há de Burlesco? perguntou Elio.

- como o quê? - questionou Gaia - nao o reconheces?

- quem? - procurou saber ainda Elio.

- O papá! - exclamou Gaia.

- Papá? Tens razao, trajado desta maneira nao o tinha reconhecido, assemelha um pouco a Libero. está vestido da mesma maneira!

finalmente, depois de tanto tempo, escapou-lhe um sorriso. Gaia, no entanto, folheava com curiosidade as outras fotos.

- viste esta? parece Libero quando rapazote, está tao sério e amuado que quase nao se reconhece.

Na foto via-se uma criança, franzina, com o olhar fixo no vazio, palido e inexpressivo.

- Parece que tenha sido sequetrado pelos alheios - comentou Gaia.

a imagem o figurava no jardim, mantinha bem seguras na mao as suas pequenas maquinas. tinha sido tirada ao anoitecer, com o pôr do sol às suas costas, à sua longa sombra ladeava uma segunda, mas a criança estava apenas na foto.

Elio começou a fixá-la e apontou preocupado:

- Vés esta sombra?

- Qual?

Elio começou a agitar-se:

- Esta, nao vés? Esta cuja nao corresponde a nenhum corpo - disse indicando-a.

- Esta? estás enganado, provem da arvore.

embora nao estava convencida pela perspectiva, Gaia tentou tranquilizá-lo.

Elio nao queria parecer-lhe doido e, para evitar de retomar o assunto, encarou de frente o motivo pelo qual encontrava-se ali.

- Devemos descer, a tia tinha-me mandado para chamar-te, precisa de ajuda para o jantar.

- tu ficas aqui? - perguntou-lhe Gaia saltando para cima como um grilo e dirigindo-se para as escadas.

elio imaginou que nao ficaria nem sequer sonhando lá em cima sozinho.

- não, desço contigo - respondeu.

Gaia encontrou a tia atarefada a preparar o jantar e começou a ajudá-la.

Elio estava para dobrar as pernas e atirar-se no sofá quando chegou a voz de Ida.

- o que fazes? levanta, anda, venha ajudar, nao é ainda hora para repousar, prepara a mesa.

- Onde está Libero? - perguntou Gaia.

- Certamente está a terminar de fechar os currais - respondeu Ida - Elio, se terminaste, por que nao vais chamá-lo?

- vou eu - ofereceu-se Gaia feliz.

- Nao, ainda preciso de ti aqui, deixa que vá o teu irmao.

- sim, respondeu exausto Elio, que estranhamente tinha um apetite de leao.

saido da porta de casa, olhou por aí para tentar ver o primo, estava nos campos, sentado no tractor, estava a observar o céu.

elio aproximou-se gritando, parecia que naquele dia todos tivessem perdito a audiçao porque mesmo ele, como Gaia antes nao lhe respondiam.

“Esperamos que seja contagioso assim perco eu tambem a audiçao e posso deitar-me sem responder a ninguem” reflectia Elio.

Devia chegar até perto do veiculo para ter uma resposta.

- por que estás a gritar? - perguntou Libero.

- Ja devias estar dentro de casa, está na hora do jantar - respondeu Elio.

- Venha rapido - convidou-o como quem nao estivesse a ouvir o que estava a dizer.

- Eu lá em cima?

- sim, aqui em cima, quero mostrar-te uma coisa.

Elio subiu, Libero estreitou-se um pouco e sentaram-se juntos.

- Olha que maravilha! -exclamou Libero apontado o céu - imaginar que alguns anos atras nao conseguia vê-lo.

- O quê? - perguntou Elio procurando ver nao sei qual estranheza.

- O céu - repetiu.

- O céu?

- Sim o céu, é uma coisa lindissima, mas muitas vezes durante muito tempo da nossa vida nao erguemos a cabeça para observá-lo e nao tenciono observá-lo para ver o tempo que faz, mas admirá-lo em silencio, como faz-se com o mar, que estando numa posiçao favoravel aos olhos, é apreciado com mais frequencia. Tu nunca páras para observá-lo?

- nao.

- contudo deverias, é muito fortificante e coloca muitas coisas na justa prespectiva.

Elio espantou-se de tanta profundidade do primo e ficou em silencio com ele durante um pouco a fixá-lo.

do branco cegante até as tonalidades do fumo, as nuvens estavam suspensas entre as duas faixas do céu, céu plumbeo em baixo deles, céu turqui em cima, misto aos reverberos ocre de um sol ja quase a pôr-se que as iluminava tornando o seu cume dourado e dando a sensaçao de ser a luz de um outro mundo, ali a iluminar uma vida que sobre eles se desenvolvia. densas, como albumen montado em forma de neve, aquelas brancas, emporcalhadas, como no choro pictorico de uma criança de três anos, aquelas cinzentas.

entre todas distinguiam-se uma, com a forma de unicornio, que se perfilava no fundo branco como se o cinzento animal corresse nas brancas pradarias celestes. precisamente como num afresco do Tiepolo, este sotao desfundado natural tendia ao infinito que existe além do visivel, ao misterio que faz sentir as nossas pequenas almas e ao mesmo tempo eternas.

libero de repente saltou para baixo a partir do tractor.

- Agora tenho fome - disse rindo em voz alta.

- Tu nao tens Elio?

- Sim.

- entao salta para baixo e vamos comer, talves a proxima vez far-te-ei dar uma volta com o tractor.

e dirigiu-se para casa.

elio nao perdeu tempo e o seguiu, a fome voltava a fazer-se sentir.

Quarto Capítulo

como um mau pressagio, mormurava palavras numa lingua desconhecida

Elio levantou-se muito cedo, era inevitavel ceder à tia que continuava a chamá-lo com insistencia. fora era apenas a aurora, reparou para o céu que alvorecia e imaginaou novamente por um instante ao pôr do sol da noite anterior, à sensaçao de paz sentida naqueles instantes, mas durou pouco, as suas orelhas começaram a zumbir, um zumbido surdo, pungente, que rasgava a alma e o deixava atirar-se de novo na sua fria realidade.

Elio, arrastou-se ainda de pijama até à cozinha, esperando de despertar um pouco com o pequeno-almoço.

A tia, o primo e a sua irmã ja estavam vestidos e penteados como se fosse oito horas da manhã e nao apenas cinco e trinta! havia ar de festa, o seu primo Ercole teria voltado do campo de escutismo. Ida estava excitada pelo regresso do filho, tinha estado fora precisamente durante cinco dias, ficava sempre preocupada quando os seus filhos ficassem fora de casa por causa do incidente sucedido a Libero quando menino e nao quisera por acaso perdê-los de vista.

O sargento Ida, mal avistado o insubordinado Elio, expulsou-o imediatamente da cozinha para que fosse lavar-se e arrumar-se.

Ida era uma mulher forte, temperada pelas vicissitudes da vida. Depois da morte do marido e o problema com o filho, tivera que se adaptar a um estilo de vida completamente diferente daquele citadino, que tinha marcado a sua vida nos primeiros anos do matrimonio.

Dura e arrojada, tinha tomado a peito aquele novo desafio. mais que uma vez tinha-se encontrada sozinha a chorar pelo desespero, mas nao baixou a cabeça.

O seu ar de general nao devia enganar, dentro era mole como o coraçao de um suflê.

pouco depois Elio voltou vestido e quase arrumado, embora o humor era negro e a fome lhe acometia.

sentia o cheiro do leite e chocolate, mas sobretudo dos biscoitos gigantes feitos pela tia no dia anterior, que permanecera pelo ar.

Eram uns enormes pedaços de pão com leite em forma de tranças misturados com varios aromas: de canela, de anis e, para nao deixar faltar nada, as suas preferidas de sésamo.

A sua irmã e Libero já estavam a molhá-los no leite.

Libero perguntou-lhe:

- sabes quem volta hoje?

Elio espantou-se pela pergunta:

- quem? - respondeu.

- Ercole, o meu irmaozinho!

Elio nao disse nada mas tinha-se esquecido completamente do primo da mesma idade.

- Donde? - perguntou como se no dia anterior nao tivessem falado dele.

- Como donde? - respondeu Gaia - nos disse ontem a tia.

- Volta do campo de escuteiros - disse sorrindo Libero.

- Hoje o sotao vos espera - sugeriu a tia com um tom que nao admitia replicas - Mexa-se Elio, vê se acaba já o teu pequeno-almoço e põe-te ao trabalho. Gaia chegará para dar-te uma mao dentro de pouco tempo, agora preciso dela para uma incumbencia.

elio terminou de tomar o leite num gole imaginando com alivio ao facto de que por um instante ficaria sozinho no sotao numa total tranquilidade. desfrutava da ideia de poder enfiar nas orelhas auriculares do seu amado leitor mp3.

reparou por aí sem achá-lo, depois voltou para a cozinha e perguntou:

- Alguem viu o meu leitor por aí?

- Infelizmente, ontem ficou vitima de um incidente. tinha-o deixado no sofá e quando o abri para preparar a cama ficou embutido no meio do mecanismo de extracçao da rede… nao sobrou muita coisa, mas conservei para ti o cartao de memoria - contou a tia e, buscando-o num pratinho decorativo colocado em cima da credencia, entregou-lhe.

A jornada tinha precisamente começado mal, pensou o rapaz, subiu a escada que levava até ao sotao com a lentidao que o distinguia e acendeu a luz.

por toda a parte tinha amontoado coisas, deveria limpar e criar um espaço onde preparar as camas, muito trabalho para ele só de pensar. assim resolveu abrir a grande da janela central, para deixar entrar ar e luz, e depois sentar-se numa esquina qualquer a mandriar à espera da Gaia.

Os seus olhos viram algo que o afectaram, um livro em cima de uma velha caixa de madeira, como aquele que o estranho senhor entrado no compartimento lia.

Realmente uma estranha coincidencia, nao era um best-seller na moda, isto o apoquentou. de repente apagou-se a luz e elio começou a ouvir a estranha voz que, como um mau pressagio, murmurava palavras desconhecidas ao seu ouvido.

Mesmo sabendo de como nao rea possivel, teve o pavor de que aquele homem poderia encontrar-se ali, na escuridao. procurou o interruptor da luz mas nao conseguiu acendê-la de novo, devia ter-se fundido a lampada. um temor profundo apoderou-se dele, a voz era cada vez mais forte, a ouvia ecoar dentro da sua cabeça. às apalpadelas tentou chegar à janela, arrastando consigo os objectos que encontrava à sua passagem.

Chegado à manilha, nao logrou abril-lo, entao, fora de si, começou a dar murros na esperança de desbloqueá-lo.

Tremia e suava frio.

De repente acendeu-se a luz, Elio virou repentinamente, quisera gritar, mas a voz esmorecera na garganta.

viu Gaia.

- Elio estás bem? por que todo este barulho? algo nao está bem contigo?

O rapaz, branco como um lençol, tinha o olhar transtornado e tremulo.

gaia abraçou-o forte preocupada e lhe sussurrou:

- Está tudo bem? aconteceu contigo outra vez, nao é? aquela estranha coisa que te deixa ficar confuso…

Elio nao respondia, nem retribuia o seu abraço, estava ainda a viajar por aí, possuido pelos seus pensamentos, nao conseguia mesmo sentir o calor daquele abraço, como se fosse pedra.

Lentamente o abraço desfez-se, Elio começava a voltar em si.

a primeira coisa que fez foi voltar-se para controlar se aquele estranho manuscrito estivesse realmente ali, onde o tinha visto, ou entao se o tivesse apenas imaginado.

infelizmente, estava ainda ali,, o seu olhar ficou gelido.

Gaia, notada toda a cena, aproximou-se ao tomo para pegá-lo, para ver se era realmente o motivo da inquietaçao do irmao. põs-se na trajectoria entre o olhar de Elio e o livro.

Era precisamente ali que reparava, virou e pegou-o virando-se com o livro na mao para com ele e perguntou:

- É isto que tanto te tira o sossego?

Elio ficou calado.

- Fala comigo Elio, nao posso ajudar-te se nao te abres comigo e continuar a teimar.

- O comboio - sussurrou Elio.

- O comboio, o que quer dizer o comboio?

- Uma cópia daquele livro vi-a no comboio.

- o que tem de estranho nisto?

- Trazia-o um estranho fulano sentado na fila ao meu lado, no momento em que vocês estavam no vagao-restaurante.

- Muitos leem enquanto estao a viajar.

- Mas nao é um livro comum, nao ves? - agitou-se Elio.

Efectivamente Gaia tinha notado a particularidade da capa do livro e ficou um pouco espantada mal o abriu.

Estava escrito numa lingua para ela desconhecida, as imagens, todas em preto e branco, figuravam personagens estranhas, numa moldura de bosques e luas cheias. muitas daquelas figuras eram na pior das hipoteses atormentadoras.

Gaia fingiu de nao estar a notá-las, fechou imediatamente o livro e o deixou no canto, tentando simular indiferença.

- Força, animo, é apenas uma coincidencia e aquele é apenas um antigo livro.

Elio ja tinha-se atirado outra vez no silencio, as suas orelhas zumbiam de novo.

a rapariga procurou distrair o irmao, se bem que as imagens espectrais nao abandonassem a sua mente.

- Coragem, dá-me a tua mao, afastemos para a luz estas caixas e começamos a criar espaço em baixo da claraboia, quero arrumar ali a nossa cama. infelizmente nos caberá dormir na mesma e eu quero adormecer observando as estrelas.

Trabalharam toda a manhã com todo ardor. Gaia, com as suas conversinhas, conseguiu distrair o Elio que depois do sucedido parecia reagir com um pouco de energia a mais.

Passaram tambem boa parte da tarde a limpar até quando a tia os convidou para lavar-se, naquela noite chegava o ercole e era preciso festejar.

Libero tinha prometido de levá-los para dançar, na aldeia desenrolar-se-ia a anual festa da ceifa.

ouviu-se provir do exterior o som da buzina do velho autocarro que duas vezes por semana, depois de ter atravessado os varios lugarejos partindo da cidade, chegava na aldeia, os escuteiros o utilizavam para regressar do campo que mantido em Tresentieri, um bosque nao bastante distante.

Libero lançou-se para fora e, como seu habito, agarrou o irmao ainda com os ombros carregados por uma mochila seguramente fora da medida e o fez voar arrastando-o até à porta de casa onde, mal escapou da sua mordidela, viu-se naquela da mae.

Erecole estava feliz por esta manifestaçao de afecto, mas lhe parecia um pouco exagerado para uma ausencia que durou somente cinco dias.

saudou afectusamente com os dois beijos na bochecha de gaia, que achava muito gira, enquanto reservou um gelido “olá” ao primo que o julgava responsavel pelo desapareciemto da Tv e sobretudo dos seus amados videosjogos.

Ercole e Gaia eram da mesma idade e representava em tudo o mito do qual levava o nome: alto, musculoso e atletico fazia parte da equipa de luta livre da aldeia.

tinha os cabelos pretos, rapados nos lados e à escovinha no centro, os olhos escuros e a pele alivacea, mas este seu aspecto de duro nao espelhava a sua verdadeira natureza de pessoa calma, incapaz de guardar rancor.

anteciparam o jantar, para ter o tempo para preparar-se para a festa. exagerado talves, mas por outro lado a tia tinha preparado para a ocasiao uma refeiçao nupcial e era preciso ter o tempo para deixar desfilar todos aqueles pratos na mesa.

depois ficariam prontos para esgotar tudo na festa da ceifa.

Naturalmente, a espera mais longa foi por causa da preparaçao das duas mulheres da casa. Elio tinha pouca vontade, ja se via pronto assim como vinha vestido antes do pequeno-almoço. Ercole usou umas calças jeans e e alguns quilos de gel nos cabelos, impossivel perceber onde tivesse ido parar.

Libero foi, entre os homens, aquele que investiu maior tempo. nao saiu do seu quarto até que nao ficou pronto. reluzia, vinha trajado de calças caqui que chegam até a barriga da perna azuis, em cima trazia uma camisa que os Hawaianos teriam considerado exagerada mas que nele nao desfigurava.

os olhos brilhavam, era uma das festas que adorava para valer.

Mal que todos ficaram prontos, Elio tentou em vao de subtrair-se àquele supplicio, mas foi atropelado pelo entusiasmo da tia que estava quase ireconhecivel. trazia um vestido preto floreado, os sapatos com salto alto, tinha os cabelos soltos e o rosto maquilhado. pegou-o pelo braço e o escoltou para fora de casa.

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31 декабря 2021
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9788835431527
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