Читать книгу: «Escrava, Guerreira e Rainha », страница 3

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Mesmo assim, ela abanou a cabeça.

"Eu não quero ser ferreiro", disse ela.

"Corre-te no sangue, Ceres. E tens um dom para isso."

Ela abanou a cabeça, inflexível.

"Eu quero empunhar armas”, disse ela, "não fazê-las."

Assim que as palavras lhe saíram da boca, ela arrependeu-se.

O seu pai franziu a testa.

"Desejas ser uma guerreira? Um lorde de combate?"

Ele abanou a cabeça.

"Um dia pode ser que as mulheres sejam autorizadas a lutar", disse ela. "Sabe que eu tenho praticado."

As suas sobrancelhas enrugaram-se em preocupação.

"Não", ele ordenou, com firmeza. "Isso não é o teu caminho."

Ela ficou desolada. Sentia como se os seus desejos e sonhos de se tornar uma guerreira se estivessem a dissipar com as suas palavras. Ela sabia que ele não estava a tentar ser cruel - ele nunca era cruel. Era apenas a realidade. E para eles sobreviverem, ela teria de sacrificar a sua parte também.

Ela olhou para o longe quando o céu se iluminou com um disparo de relâmpagos. Três segundos depois, ressoaram trovões através dos céus.

Será que ela não tinha percebido o quão terríveis as circunstâncias eram? Ela assumia sempre que eles iriam conseguir ultrapassar as situações juntos como uma família, mas aquilo mudava tudo. Agora, ela não teria o Pai para se apoiar, e não haveria ninguém para ficar como um escudo entre ela e a Mãe.

As lágrimas não paravam de cair sobre a terra desolada enquanto ela permanecia imóvel onde estava. Deveria ela desistir dos seus sonhos e seguir o conselho do seu pai?

Ele tirou algo de trás das costas e os olhos dela arregalaram-se ao ver uma espada na sua mão. Ele aproximou-se e ela conseguia ver os detalhes da arma.

Era imponente. O punho era de ouro puro, com uma serpente gravada. A lâmina era de dois gumes e parecia ser do melhor aço. Embora o acabamento fosse estranho para Ceres, ela percebeu imediatamente que a espada era da melhor qualidade. Na própria lâmina havia uma inscrição.

Quando o coração e a espada se encontram, haverá a vitória.

Ela arfou, olhando para ela fascinada.

"Foste tu que a forjaste?", perguntou ela, com os olhos colados à espada.

Ele assentiu.

"De acordo com a maneira dos nortistas”, ele respondeu. "Eu tenho estado a trabalhar nela há três anos. De facto, esta lâmina por si só poderia alimentar a nossa família por um ano inteiro."

Ela olhou para ele.

"Então porque é que não se vende?"

Ele abanou a cabeça com firmeza.

"Não foi feita com este propósito."

Ele aproximou-se e, para surpresa dela, ele segurou-a diante dele.

"Foi feita para ti."

Ceres levou a mão à boca e soltou um gemido.

"Para mim?", perguntou, atordoada.

Ele fez um amplo sorriso.

"Pensaste mesmo que eu me tinha esquecido do teu aniversário dos dezoito anos?", respondeu ele.

Ela sentiu as lágrimas inundarem-lhe os olhos. Nunca se tinha sentido tão sensibilizada.

Mas depois ela pensou no que ele lhe havia dito antes, sobre não querer que ela lutasse e sentiu-se confusa.

"E, no entanto, disseste que eu não devo treinar", ela respondeu.

"Não quero que morras", explicou. "Mas vejo onde está o teu coração. E isso eu não consigo controlar."

Ele pôs uma mão debaixo do seu queixo e ergueu-lhe a cabeça até os seus olhos se encontrarem.

"Eu estou orgulhoso de ti por isso."

Ele entregou-lhe a espada. Ao sentir o metal frio na palma da sua mão, tornou-se uma só juntamente com ela. O peso era perfeito para ela e o punho parecia que tinha sido moldado para a sua mão.

Toda a esperança que tinha morrido antes despertava agora em si.

"Não digas à tua mãe", alertou. "Esconde-a onde ela não a possa encontrar, ou ela vende-a."

Ceres assentiu.

"Quanto tempo vais ficar fora?"

"Vou tentar estar de volta para uma visita antes da primeira queda de neve."

"Isso é a meses de distância!", disse ela, dando um passo para trás.

"É isso que devo fazer para…"

"Não. Vende a espada. Fica!"

Ele colocou uma mão na sua bochecha.

"Vender esta espada pode ajudar-nos para esta temporada. E talvez para a próxima. Mas e depois? "Ele abanou a cabeça. "Não. Precisamos de uma solução a longo prazo."

Longo prazo? De repente, ela percebeu que o seu novo trabalho não iria ser só por alguns meses. Podia ser por anos.

O seu desespero aumentou.

Ele deu um passo para a frente, como se o pressentindo, e abraçou-a.

Ela sentiu que começava a chorar nos seus braços.

"Vou sentir saudades tuas, Ceres", disse ele, por cima do seu ombro. "Tu és diferente de todos os outros. Todos os dias vou olhar para o céu e saber que estás sob as mesmas estrelas. Fazes o mesmo?"

No início, ela queria gritar com ele, para dizer: como te atreves a deixar-me aqui sozinha.

Mas ela sentiu no seu coração que ele não podia ficar e não queria tornar a situação mais difícil do que já era para ele.

Uma lágrima rebolou pelo seu rosto abaixo. Ela fungou e acenou com a cabeça.

"Vou ficar debaixo da nossa árvore todas as noites", disse ela.

Ele beijou-a na testa e envolveu-a nos seus braços. As feridas nas suas costas pareciam como que facadas, mas ela cerrou os dentes e permaneceu em silêncio.

"Amo-te, Ceres."

Ela queria responder e, porém, não conseguia dizer nada - as palavras estavam presas na sua garganta.

Ele foi buscar o seu cavalo ao estábulo. Ceres ajudou-o a carregá-lo com comida, ferramentas e suprimentos. Ele abraçou-a uma última vez e ela pensou que o seu peito iria explodir de tristeza. Ainda assim, ela não conseguia pronunciar uma única palavra.

Ele montou o cavalo e acenou com a cabeça antes de fazer sinal para o animal se mover.

Ceres acenou ao cavalgar. Ela ficou a ver com uma firme atenção até ele desaparecer atrás da distante colina. O único verdadeiro amor que ela jamais havia conhecido vinha daquele homem. E agora ele tinha se ido embora.

Começou a chover dos céus, fazendo-lhe cócegas contra o seu rosto.

"Pai!", gritou tão alto quanto conseguiu. "Pai, eu amo-te!"

Ela caiu de joelhos e enterrou as mãos no rosto, soluçando a chorar.

Ela sabia que a vida nunca mais seria a mesma.

CAPÍTULO TRÊS

Com os pés doridos e os pulmões a arder, Ceres subiu a colina íngreme tão rapidamente quanto conseguiu, sem derramar uma gota de água de ambos os baldes que tinha dos lados. Normalmente ela faria uma pausa para intervalo, mas a mãe tinha-a ameaçado ficar sem pequeno-almoço, a não ser que ela estivesse de volta ao nascer do sol – e ficar sem pequeno-almoço significava que ela não iria comer até ao jantar. De qualquer das formas, ela não se importava com a dor – isso, pelo menos, permitia-lhe deixar de pensar no seu pai e no novo estado miserável das coisas desde que ele se tinha ido embora.

O sol estava agora a coroar ao longe as Montanhas Alva, pintando as nuvens dispersas lá em cima de rosa dourado. O vento macio sussurrava pela amarela e alta erva em ambos os lados da estrada. Ceres inspirava o ar fresco da manhã pelo nariz, desejando conseguir ser mais rápida. A sua mãe não iria considerar uma desculpa aceitável o facto do seu poço ter secado ou que havia uma longa fila no outro a meia milha de distância. Na verdade, ela só parou quando chegou ao topo da colina - e assim que lá chegou, ela parou, ficando atordoada com o que viu.

Lá, ao longe, estava a sua casa - e à sua frente estava um vagão de bronze. A sua mãe estava diante do vagão, conversando com um homem que estava muito acima do peso. Ceres pensou que nunca tinha visto ninguém nem com a metade do seu tamanho. Ele usava uma túnica de linho cor de vinho e um chapéu de seda vermelha, e a sua longa barba era espessa e cinza. Ela pestanejou, tentando entender. Seria um comerciante?

A sua mãe estava a usar o seu melhor vestido, um vestido verde de linho até o chão que ela tinha comprado anos antes com o dinheiro que deveria ter sido usado para comprar uns sapatos novos a Ceres. Nada daquilo fazia qualquer sentido.

Hesitante, Ceres começou a descer a colina. Ela manteve os olhos fixados neles, e quando ela viu o homem de idade entregar à sua mãe uma bolsa de couro pesado e viu o rosto magro da sua mãe iluminar-se, ela ficou ainda mais curiosa. Teria o azar deles acabado? Poderia o Pai voltar para casa? Aqueles pensamentos aliviaram-na um pouco, embora ela não se permitisse sentir qualquer excitação até saber os detalhes.

Ao aproximar-se da sua casa, a sua mãe virou-se e sorriu para si calorosamente – e, imediatamente, Ceres sentiu um nó de preocupação no estômago. A última vez que a sua mãe tinha sorrido para ela assim – com dentes brilhantes, olhos brilhantes - Ceres tinha sido chicoteada.

"Querida filha", disse a sua mãe num tom excessivamente doce, abrindo-lhe os braços com um sorriso que fez com que o sangue de Ceres coalhasse.

"Esta é a miúda?", disse o velho homem com um sorriso ansioso e com os seus olhos escuros e redondos arregalados ao olhar para Ceres.

Agora, de perto, Ceres podia ver cada ruga na pele do homem obeso. O seu largo nariz achatado parecia ultrapassar o seu rosto inteiro, e quando ele tirou o chapéu, sua cabeça calva e suada brilhava à luz do sol.

A sua mãe rodopiou até Ceres e segurou-lhe nos baldes, colocando-os na erva chamuscada. Aquele gesto apenas confirmou a Ceres que algo estava profundamente errado. Ela começou a sentir uma sensação de pânico a crescer dentro de si.

"Apresento-te o meu orgulho e alegria, minha única filha, Ceres”, disse a sua mãe, fingindo enxugar uma lágrima do seu olho, quando não havia nenhuma. "Ceres, este é o Lorde Blaku. Por favor, cumprimenta o teu novo mestre."

Um medo repentino apoderou-se de Ceres. A sua respiração paralisou. Ceres olhou para a mãe e, de costas viradas para Lorde Blaku, a sua mãe lançou-lhe um sorriso que era o mais demoníaco que ela alguma vez já havia visto.

"Mestre?", perguntou Ceres.

"Para salvar a nossa família da ruína financeira e constrangimento público, o benevolente Lorde Blaku ofereceu ao teu pai e a mim um generoso acordo: um saco de ouro em troca de ti."

"O quê?", engasgou-se Ceres, sentindo-se a afundar para dentro da terra.

"Agora, sê a boa menina que eu sei que és e cumprimenta", disse a sua mãe, atirando a Ceres um olhar de advertência.

"Não o farei", Ceres disse, dando um passo para trás, enchendo o peito, sentindo-se tola por não ter imediatamente percebido que o homem era um traficante de escravas e que a transação era pela sua vida.

"O Pai nunca me venderia", acrescentou ela com os dentes cerrados, em crescente horror e indignação.

A sua mãe fez má cara e agarrou-a pelo braço, espetando as suas unhas na pele de Ceres.

"Se te comportares, este homem pode levar-te como sua esposa e, para ti, isso é ter muita sorte", murmurou ela.

Lorde Blaku lambia os seus finos e estalados lábios enquanto os seus olhos inchados vagueavam acima e abaixo com avidez pelo corpo de Ceres. Como poderia a sua mãe fazer isso com ela? Ela sabia que a sua mãe não a amava tanto quanto aos seus irmãos - mas aquilo?

"Marita", disse ele com uma voz nasal. "Você me disse que sua filha era bonita mas esqueceste de me dizer o quão absolutamente magnífica ela é. Ouso dizer, nunca vi uma mulher com lábios tão suculentos como os dela, olhos tão ardentes e com um corpo tão firme e magnífico."

A mãe de Ceres colocou uma mão sobre o seu coração com um suspiro e Ceres sentiu que era bem capaz de vomitar ali mesmo. Ela cerrou os punhos e soltou o seu braço da mão da sua mãe.

"Talvez eu devesse ter pedido mais, se ela te agrada assim tanto", disse a mãe de Ceres, baixando os olhos em desânimo. "Ela é, afinal, a nossa única amada filha."

"Eu estou disposto a pagar um bom dinheiro por tal beleza. Serão mais cinco peças de ouro suficientes? ", perguntou ele.

"Quanta generosidade", respondeu a mãe.

Lorde Blaku caminhou até ao seu vagão para ir buscar mais ouro.

"O Pai nunca vai concordar com isto", Ceres desdenhou.

A mãe de Ceres deu um passo ameaçador em direção a ela.

"Oh, mas foi ideia do teu pai”, disse a sua mãe rapidamente, com as sobrancelhas erguidas até meio da testa. Ceres sabia que ela estava a mentir agora - sempre que ela fez aquilo, ela estava a mentir.

"Achas realmente que o teu pai ama-te mais do que me ama a mim?", perguntou-lhe a mãe.

Ceres pestanejou, perguntando-se o que é que aquilo tinha a ver.

"Eu nunca poderia amar alguém que pensa que é melhor do que eu", acrescentou.

"Nunca me amaste?", perguntou Ceres, com a sua raiva a transformar-se em desespero.

Com o ouro na mão, Lorde Blaku bamboleou até à mãe de Ceres e entregou-o a ela.

"A tua filha vale cada peça de ouro", disse ele. "Ela vai ser uma boa esposa e vai gerar muitos filhos meus."

Ceres mordeu o interior dos lábios e abanou a cabeça repetidas vezes.

"Lorde Blaku virá buscar-te de manhã, portanto vai para dentro e faz a mala", disse a mãe de Ceres.

"Eu não vou!", gritou Ceres.

"Esse sempre foi o teu problema, miúda. Só pensas em ti mesma. Este ouro vai manter os teus irmãos vivos. Vai manter a nossa família intacta, permitindo-nos permanecer na nossa casa e fazer obras. Não pensas nisso?", disse a sua mãe, sacudindo a bolsa na frente do rosto de Ceres.

Por uma fração de segundo, Ceres pensou que talvez estivesse a ser egoísta, mas então ela percebeu que a sua mãe estava novamente a fazer chantagem emocional, usando o amor de Ceres pelos seus irmãos contra si.

"Não te preocupes", disse a mãe de Ceres voltando-se para Lorde Blaku. "Ceres irá cumprir. Tudo que precisas de fazer é ser firme com ela e ela tornar-se-á tão mansa quanto um cordeiro."

Nunca. Ela nunca seria esposa daquele homem ou propriedade de ninguém. E nunca ela deixaria que a sua mãe ou qualquer outra pessoa trocasse a sua vida por cinquenta e cinco peças de ouro.

"Eu nunca irei com este traficante de escravas", Ceres retrucou, atirando-lhe um olhar de repugnância.

"Filha ingrato!", gritou a mãe de Ceres. "Se não fizeres o que eu digo, vou bater-te tão severamente que nunca mais vais conseguir andar. Agora vai para dentro!"

Pensar em ser espancada pela sua mãe trazia-lhe de volta terríveis e viscerais memórias; ela recordou-se daquele momento terrível quando tinha cinco anos de idade e a sua mãe lhe bateu até tudo ficar escuro. Os ferimentos daquela e de muitas outras sovas sararam – porém, os ferimentos no coração de Ceres nunca tinham parado de sangrar. E agora que ela tinha a certeza de que a sua mãe não a amava e nunca a tinha amado, o seu coração ficou destroçado para todo o sempre.

Antes que Ceres conseguisse responder, a sua mãe aproximou-se e deu-lhe um estalo na cara com tanta força que o seu ouvido começou a zumbir.

Ao início, Ceres ficou chocada com o ataque repentino e quase desistiu. Mas então algo estalou dentro de si. Ela não se deixaria acobardar como sempre fazia.

Ceres bateu na sua mãe, também, na cara, com tanta força que ela caiu no chão, ofegante, horrorizada.

Com o rosto vermelho, a sua mãe conseguiu levantar-se, agarrou Ceres pelos ombros e cabelos e deu-lhe uma joelhada no estômago. Quando Ceres se inclinou para frente em agonia, a sua mãe deu-lhe com o joelho no rosto, fazendo-a cair ao chão.

O traficante de escravas estava ali a observar, com os olhos arregalados, rindo-se, claramente deliciado com a luta.

Ainda a tossir e com falta de ar por causa da investida, Ceres cambaleava. A gritar, ela atirou-se para cima da sua mãe, atirando-a para o chão.

Isto termina hoje, era tudo em que Ceres conseguia pensar. Todos os anos sem ser amada, todos os anos a ser tratada com desdém, alimentavam a sua raiva. Sem parar Ceres batia com os punhos fechados contra o rosto da sua mãe enquanto lágrimas de fúria lhe escorriam pelo rosto e soluços incontrolavelmente se derramavam dos seus lábios.

Finalmente, a sua mãe esmoreceu.

Os ombros de Ceres tremiam a cada choro, as suas entranhas torciam-se de dentro para fora. Inundada em lágrimas, ela olhava para o traficante de escravas com um ódio ainda mais intenso.

"Vais tornar-te uma boa esposa”, disse Lorde Blaku disse com um sorriso astuto, enquanto apanhava o saco de ouro do chão e o prendia ao seu cinto de couro.

Antes de ela conseguir reagir, de repente, as mãos dele estavam em cima dela. Ele agarrou Ceres e subiu para o carro, atirando-a para a parte de trás num movimento rápido, como se ela fosse um saco de batatas. O seu enorme tamanho e força eram demais para ela resistir. Segurando o pulso dela com um braço e segurando uma corrente com a outra, ele disse: "Eu não sou estúpido o suficiente para pensar que ainda estarias aqui de manhã."

Ela olhou para a casa que tinha sido o seu lar durante dezoito anos e os seus olhos encheram-se de lágrimas ao pensar nos seus irmãos e no seu pai. Mas ela tinha de fazer uma escolha se quisesse salvar-se a si própria, antes que a corrente ficasse à volta do seu tornozelo.

Então, num movimento rápido, ela reuniu toda a sua força e soltou o seu braço do traficante de escravas, levantou a perna e pontapeou-o no rosto com tanta força quanto conseguiu. Ele caiu para trás, para fora do carro, no chão.

Ela saltou da carroça e correu o mais rápido que pôde pela estrada de terra, para longe da mulher a quem ela tinha jurado nunca mais chamar de mãe, para longe de tudo o que ela já tinha conhecido e amado.

CAPÍTULO QUATRO

Rodeado pela família real, Thanos esforçava-se por manter uma expressão agradável no seu rosto enquanto agarrava a dourada taça de vinho - contudo ele não conseguia. Ele odiava estar ali. Odiava aquelas pessoas, a sua família. E odiava frequentar reuniões da realeza - especialmente aquelas que se seguiam às Matanças. Ele sabia como as pessoas viviam, o quão pobres elas eram, o quão sem sentido e injusto toda aquela pompa e arrogância realmente era. Ele daria qualquer coisa para estar bem longe dali.

Junto dos seus primos Lucious, Aria e Varius, Thanos não fazia o menor esforço para se envolver nas suas conversas fúteis. Em vez disso, ele observava os convidados imperiais a serpentear pelos jardins do palácio, usando suas togas e estolas, apresentando sorrisos falsos e vomitando falsas subtilezas. Alguns dos seus primos estavam a atirar comida uns para os outros enquanto corriam pela relva bem cuidada e entre as mesas que estavam abastecidas com comida e vinho. Outros estavam a reencenar as suas cenas favoritas das Matanças, rindo e ridicularizando aqueles que tinham perdido as suas vidas naquele dia.

Centenas de pessoas, pensou Thanos, e nem uma tinha sido honrada.

"No próximo mês vou comprar três lordes de combate”, disse Lucious, o mais velho, num tom efusivo enquanto enxugava com um lenço de seda as gotas de suor da sua testa. "Stefanus não valia nem metade do que paguei por ele. Se ele não estivesse já morto, eu próprio lhe teria espetado uma espada por ter lutado como uma menina na primeira rodada."

Aria e Varius riram-se, mas Thanos não considerou o comentário dele divertido. Quer considerassem ou não as Matanças um jogo, eles deviam respeitar os bravos e os mortos.

"Bem, viste Brennius?", perguntou Aria, com os seus grandes olhos azuis arregalados. "Na verdade, pensei em comprá-lo, mas ele olhou para mim pretensiosamente quando eu o estava a observar a ensaiar. Dá para acreditar?", acrescentou ela revirando os olhos e bufando.

"E ele fede como uma doninha-fedorenta”, Lucious acrescentou.

Todos se riram novamente, exceto Thanos.

"Nenhum de nós o teria escolhido", disse Varius. "Embora ele tenha durado mais tempo do que o esperado, a sua forma era horrível."

Thanos não conseguiu ficar calado nem mais um segundo.

"Brennius era quem tinha a melhor forma em toda a arena”, ele interrompeu. "Não falem sobre a arte de combate como se percebessem alguma coisa disso."

Os primos ficaram em silêncio e os olhos de Aria arregalaram-se olhando para o chão. Varius encheu o peito e cruzou os braços, carrancudo. Aproximou-se de Thanos como se quisesse desafiá-lo. O ar ficou mais pesado, tenso.

"Bem, não importa esses senhores de combate arrogantes", disse Aria, colocando-se entre eles, desarmando a situação. Ela acenou para os rapazes se aproximarem e, em seguida, sussurrou, "Eu ouvi um rumor estranho. Uma abelha pequena disse-se que o rei quer ter alguém da realeza a competir nas Matanças".

Todos trocaram um olhar desconfortável ficando em silêncio.

"Talvez não seja eu, apesar de tudo ", disse Lucious. "Eu não estou disposto a arriscar a minha vida por um jogo estúpido."

Thanos sabia que conseguia vencer a maioria dos lordes de combate, mas matar outro ser humano não era algo que ele quisesse fazer.

"Estás apenas com medo de morrer", disse Aria.

"Eu estou", Lucious replicou. "Retira o que disseste!"

A paciência de Thanos estava gasta. Ele afastou-se.

Thanos viu a sua prima distante Stephania a vaguear como se estivesse à procura de alguém, provavelmente de ele. Algumas semanas antes, a Rainha tinha dito que ele estava destinado a ficar com Stephania, mas Thanos sentia as coisas de outra forma. Stephania era tão mimada como o resto dos primos e ele preferia desistir do seu nome, da sua herança e até mesmo da sua espada para não ter de se casar com ela. Era verdade que ela era bonita - os cabelos dourados, a pele branca e leitosa, os lábios vermelho-sangue - mas se ele tivesse de a ouvir falar mais alguma vez sobre como a vida era tão injusta, ele pensaria em cortar as suas orelhas.

Ele correu para a periferia do jardim na direção das roseiras, evitando contacto visual com qualquer um dos presentes. Mas assim que ele virou a esquina, Stephania apareceu-lhe à frente, com os seus olhos castanhos iluminados.

"Boa noite, Thanos", disse ela com um sorriso cintilante que faria a maioria dos rapazes ali presentes salivar. Todos menos Thanos.

"Boa noite para ti também", disse Thanos, contornando-a, continuando a andar.

Ela levantou a sua estola e seguiu-o como um mosquito incómodo.

"Não achas que é tão injusto agora…", ela começou.

"Estou ocupado", disse Thanos repentinamente num tom mais áspero do que pretendia, assustando-a. Ele então virou-se para ela. "Desculpa... Estou apenas cansado de todas estas festas."

"Talvez gostasses de passear pelos jardins comigo?", disse Stephania, elevando a sua sobrancelha direita enquanto se aproximava.

Aquela era precisamente a última coisa que ele queria.

"Escuta", disse ele, "Eu sei que a rainha e a tua mãe têm suas mentes que nós, de alguma forma, pertencemos uma ao outro, mas…"

"Thanos!", ele ouviu atrás de si.

Thanos virou-se e viu o mensageiro do rei.

"O rei gostaria que fosses ter com ele ao mirante imediatamente", disse ele. "E tu também, minha senhora."

"Posso perguntar porquê?", perguntou Thanos.

"Há muito o que discutir", disse o mensageiro.

Não tendo tido conversas regulares com o rei no passado, Thanos indagava-se sobre o que é que aquilo poderia acarretar.

"Claro", disse Thanos.

Para grande consternação dele, uma Stephania radiante enganchou o seu braço à volta do dele e juntos seguiram o mensageiro até ao mirante.

Quando Thanos reparou nos vários assessores do rei e até mesmo no príncipe herdeiro já sentados em bancos e cadeiras, ele achou estranho ter sido convidado também. Ele dificilmente teria algo de valor para oferecer à conversa deles, uma vez que a sua opinião sobre como o Império era governado diferia daquela de todos os que ali estavam. A melhor coisa que ele poderia fazer, ele pensou, era manter a boca fechada.

"Que belo par vocês fazem", disse a rainha com um sorriso caloroso quando eles entraram.

Thanos cerrou os lábios, indicando a Stephania para se sentar ao lado dele.

Assim que todos se sentaram, o rei levantou-se, fazendo-se silêncio. O seu tio usava uma toga pelo joelho, mas enquanto as dos outros eram brancas, vermelhas e azuis, a sua era roxa, uma cor reservada apenas para o rei. À volta da sua têmpora calva estava uma coroa de ouro. As suas bochechas e olhos ainda estavam para baixo apesar de ele estar a sorrir.

"A multidão cresce indisciplinada", disse ele, com uma voz grave e lenta. Lentamente, ele observou todos os rostos com a autoridade de um rei. "Já é tempo de lhes lembrar quem é o rei e estabelecer regras mais severas. De hoje em diante, vou duplicar os dízimos sobre todos os bens e alimentos."

Ouviu-se um murmúrio de surpresa, seguido por movimentos de aceno em aprovação.

"Uma excelente escolha, sua graça", disse um dos seus assessores.

Thanos não podia acreditar no que ouvia. Duplicar os impostos às pessoas? Tendo-se dado com os plebeus, ele sabia que os impostos exigidos já estavam além do que a maioria dos cidadãos podia pagar. Ele tinha visto mães a chorar a perda dos filhos que tinham morrido de fome. Tão recentemente quanto no dia anterior, ele tinha oferecido comida a uma menina sem-abrigo de quatro anos de idade cujos ossos eram visíveis sob a pele.

Thanos teve que desviar o olhar para não ter de se manifestar contra aquela insanidade.

"E, finalmente, a partir de agora, para contrabalançar a revolução clandestina que se está a fomentar, o filho primogénito de cada família vai tornar-se um servo do exército do rei", disse o rei.

Todos, um após os outros, louvaram a sua decisão sábia do rei.

Por fim, porém, Thanos sentiu o rei a voltar-se para ele.

"Thanos”, disse o rei finalmente. "Permaneceste em silêncio. Diz!"

O silêncio caiu sobre o mirante, e todos puseram os olhos sobre Thanos. Ele levantou-se. Ele sabia que tinha de falar pela miúda escanzelada, pelas mães de luto, pelos que não tinham uma voz e cuja vida parecia não ter importância. Ele precisava de representá-los, porque se não o fizesse, ninguém o faria.

"Regras mais severas não vão aniquilar a rebelião", disse ele, com o seu coração acelerado. "Só a vai encorajar. Incutir medo nos cidadãos e negar-lhes liberdade apenas os vai obrigar a erguerem-se contra nós e aderir à revolução."

Algumas pessoas riram-se, enquanto outras falavam entre si. Stephania pegou na mão dele e tentou silenciá-lo, mas ela sacudiu a sua mão.

"Um rei grandioso usa o amor, assim como o medo, para governar os seus subordinados", disse Thanos.

O rei lançou à rainha um olhar inquieto. Levantou-se e, em seguida, caminhou até Thanos.

"Thanos, és um jovem homem corajoso por falares", disse ele, colocando a mão no seu ombro. "No entanto, não foi o teu irmão mais novo assassinado a sangue frio por estas mesmas pessoas, aqueles que se regem a eles próprios, como tu dizes?"

Thanos ficou irritado. Como se atrevia o seu tio a trazer à tona a morte do seu irmão tão levianamente? Durante anos, Thanos tinha adormecido a sua dor, ficando de luto pelo seu irmão.

"Aqueles que assassinaram o meu irmão não tinha, comida suficiente para si próprios", disse Thanos. "Um homem desesperado procurará medidas desesperadas."

"Questionas a sabedoria do rei?", perguntou a rainha.

Thanos não podia acreditar que mais ninguém se estivesse a insurgir contra aquilo. Será que eles não viam o quão injusto aquilo era? Será que eles não percebiam que aquelas novas leis iriam incendiar a rebelião?

"Nem por um momento serás capaz de enganar as pessoas para que elas acreditem que não queres o seu sofrimento e não queres aproveitares-te delas", disse Thanos.

Houve uma inquietação de desaprovação dentro do grupo.

"Tu falas duras palavras, sobrinho”, disse o rei, olhando-o nos olhos. "Eu quase que acreditaria que tencionas juntar-te à rebelião."

"Ou talvez ele já seja parte dela?", disse a rainha, erguendo as sobrancelhas.

"Não sou", Thanos vociferou.

O ar no mirante ficou mais quente e Thanos percebeu que se não tivesse cuidado, ele poderia ser acusado de traição - um crime punível com a morte sem julgamento.

Stephania levantou-se, agarrando a mão de Thanos – no entanto, agitado pela sua falta de sentido de oportunidade, ele tirou a sua mão.

Stephania ficou desolada e olhou para baixo.

"Talvez com o tempo vejas as fraquezas das tuas crenças", disse o rei a Thanos. "Por enquanto, a nossa decisão vai permanecer e deve ser implementada imediatamente."

"Bom", disse a rainha com um sorriso repentino. "Agora, vamos passar para o segundo item da nossa agenda. Thanos, sendo tu um jovem homem de dezanove anos, nós, os teus soberanos imperiais, escolhemos uma esposa para ti. Decidimos que tu e Stephania vão casar-se."

Thanos olhou para Stephania, cujos olhos estavam vidrados com lágrimas, com uma expressão de preocupação. Sentia-se horrorizada. Como é que eles poderiam exigir isso dele?

"Eu não me posso casar com ela", sussurrou Thanos, com um nó a formar-se na barriga.

A multidão sussurrou e a rainha levantou-se tão rapidamente que a cadeira caiu para trás com um estrondo.

"Thanos!", gritou ela, com as mãos ao lado, contraídas. "Como ousas desafiar o rei? Vais casar com Stephania quer queiras quer não."

Thanos olhou para Stephania que estava triste, com lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto.

"Sabes que és bom demais para mim?", perguntou ela, com o seu lábio inferior a tremer.

Ele aproximou-se de Stephania para confortá-la o pouco que podia, mas antes de ele a alcançar, ela correu para fora do mirante, com as mãos a cobrir-lhe o rosto enquanto ela chorava.

O rei levantou-se, claramente irritado.

"Nega-la, filho", disse ele, com uma voz subitamente fria e dura, que trovejava através do mirante, "e irás para as masmorras."

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199 ₽
Возрастное ограничение:
16+
Дата выхода на Литрес:
10 октября 2019
Объем:
251 стр. 3 иллюстрации
ISBN:
9781632918307
Правообладатель:
Lukeman Literary Management Ltd
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