Читать книгу: «Diccionario de João Fernandes», страница 4
G
GALHOFA– Dezeseis annos e dezeseis contos de renda.
GALLEGO– Segundo certos auctores, o gallego deve ser incluido na classe dos animaes nocivos, e como tal póde ser destruido. É uma opinião abominavel.
– Machina de fazer immundicie e brutalidade, segundo outros.
– Pseudonymo de bruto, acrescentam terceiros.
– Homem de ganhar. A peior especie não é a que importâmos de Galliza, nem a que faz fretes; é a que se aluga em quanto pobre e que dá coices depois de rica. Entre nós abunda esse producto das sociedades corrompidas e mal educadas. Aos que nos veem de Hespanha caracterisa-os o seguinte facto:
Indo uma vez o general Leone de Monsão para o Porto, encontrou um galleguito, de dez ou doze annos, que seguia a mesma direcção. Tendo saido dois dias antes de Tuy, o rapaz perdêra-se no caminho, ia estafado, com os pés feridos e chorando. Compadeceu-se d'elle o general, e, depois de o interrogar e saber que vinha para o Porto ganhar a vida, ordenou generosamente que o montassem n'uma das cavalgaduras que vinha com as suas bagagens. O joven ganhador, a quem o pae déra, provavelmente, como unica lição o conselho de não fazer nada sem que lhe pagassem, poz a mão na anca do cavallo salvador, e, voltando-se para o general, perguntou-lhe:
– Canto me dá bossê?
GALLO– Pimpão de feira.
GARRAFA– A mais sublime prova da transmigração das almas: recebe espiritos de todas as qualidades.
– Prisão de muitas asneiras, quando está cheia d'aquelle precioso sumo que alegra os tristes e dá valor aos covardes.
GATO– Perguntem aos alfaiates se sabem o que é.
– Facinora de jardins.
GATO-PINGADO– A parte burlesca do que ha de mais triste.
GAZOMETRO– Sujeito de apparencia sombria e triste, apesar de ter gaz.
– O tendeiro dos candieiros.
– O coração mais inflammavel que se conhece.
– Animal de sangue negro, que a luz irrita e faz estoirar de raiva.
GENEALOGIA– Arte de basofiar, invocando o apoio dos defunctos.
GENERAL– Summo sacerdote da morte.
GENEROSIDADE– Planta rara; cada vez escasseiam mais os terrenos em que ella medra.
– Senhora desapparecida, lhe chamam outros. Os seus signaes esqueceram, e por isso não se podem dar á policia para que a procure.
GIRASOL– Deputado de todos os governos quando lhe dão luz que o aqueça.
GORDO– Perigo para o magro que viajar com elle de carruagem, no caso em que esta se volte.
GORDURA– Eloquencia do estomago, e sobretudo dos ossos.
GRALHA– Orador sem convicções.
GRAMMATICA– Inutilidade que atrapalha e embaraça varios sabios de meia tijela.
GRAVATA– Meio de afugentar selvagens.
GRAVIDADE– Velha que promove o riso dos que não a possuem.
GREMIO– Elemento de inimisades.
– (LITTERARIO) Escola de bilhar e de tiro.
GRIPPE– Lyrismo do nariz.
GUARDA– Mola de segurança, de que é util desconfiar sempre.
GUERRA– Arte de ter rasão, matando, e de impedir os excessos de população que fariam encarecer as subsistencias.
– A unica rival seria da medicina.
GUIA– Cabresto util.
– Cão de cego. Quem se fia n'elle, esquece-se de que foram outros que o ensinaram.
GUITARRA– Chamariz de amor… e de facadas.
– Corda sensivel de muita gente boa.
– É a sardinha dos instrumentos musicos. Não ha paladar aristocratico que a desdenhe umas vezes por outras.
H
HARMONIA– Qualidade rara nos poetas, nas orchestras, nos partidos politicos e entre casados.
HERANÇA– Diz o proverbio, que antes deixar a maus do que pedir a bons. Eu prefiro herdar de todos. Oh! tu, rico amavel, que me estás lendo, reflecte que nada ha como fazer testamento a pessoas que nunca nos desejaram a morte… E lembra-te de mim. Os teus herdeiros talvez te contem os dias como quem os corta á tesoura, com febril impaciencia. E logo que se apossarem do teu dinheiro nunca mais pensarão em ti, senão para te accusarem de não lhes teres deixado bastante. Eu, pelo contrario, acceitarei com reconhecimento os teus cincoenta, ou mesmo cem contos, sem te maldizer se deixares mais a outros.
– Maná do céu.
– Colher sem ter semeado.
– Unico fructo que se apanha sem crime na arvore alheia.
HERDEIRA (RICA) – Eu quero, tu queres, elle quer. Nós queremos, vós quereis, elles querem, etc., até apanhar.
HERDEIRO– Apanhador de caça que outrem matou.
– Pessoa que precisa ter grande imperio sobre si, para não perguntar ao testador se tenciona demorar-se muito.
HISTORIA– Manjadoura onde os escriptores parciaes põem alguns brutos a comer gloria.
– O romance das nações.
HOMEM– Projecto de tigre.
HOMEOPATHIA– A imaginação applicada á sciencia… de beber agua aos golinhos.
HONRA– Genero que se vende… mas já não ha quem compre.
HONRAS (CONSERVADAS AO MINISTRO DEMITTIDO) – Maneira de adoçar a pilula.
HUMANIDADE– Velha pretenciosa que estuda sempre e nunca aprende.
HUMILDADE– O sacca-rolhas do orgulho.
HUMILDE– Tigre que se encolhe para armar o salto.
HUMILIAÇÃO– Esporada na alma.
HYPOCRISIA– Parodia da virtude; produz sempre mais effeito do que a parodiada.
HYPOCRITA– Reptil venenoso.
I
IDADE– Unico segredo que as mulheres sabem guardar, segundo asseveram os maldizentes.
IDÉA– Fonte subterranea; quando rebenta vem quasi sempre turva.
IDÉA-NOVA– Demolir sem reedificar.
IDEALISMO– Religião dos que chegam com a cabeça á lua.
IDILLIO– Tisana que produz dispepsias no gosto. Exemplo: os versos do poeta V. que já não teem sabor possivel.
IDIOTA– Pessoa que tem boa fé em politica.
IDOLATRIA– A religião das maiorias parlamentares, quando o idolo é de ouro, como diz a opposição.
IGNOMINIA– Sujidade na alma.
ILLUSÃO– Vacca de muitas mil tetas, onde todos mamam sem dar por isso.
ILLUSTRAÇÃO– Verniz que por vezes estraga os trastes que o teem.
IMAGINAÇÃO– Uma bebeda que nos faz amargar quasi sempre o tempo que empregâmos a seguil-a.
IMPORTUNO– A carraça da humanidade.
– Sinapismo da paciencia.
IMPOSTO– Drastico violento.
IMPOSTURA– A taboleta da moda.
IMPRUDENCIA– Os tres ultimos copos ou decilitros. Se não fossem elles, nunca se saberia se o senhor F. é dado a casos tristes.
IMPUDENCIA– Meio muito em voga, desde que se reconheceu a inutilidade da vergonha.
INCENDIO– Um innovador atroz.
INCONSTANCIA– Borboleta do amor e da politica.
INDEPENDENTES– Vampiros da peior especie, quando sabem fingir bem que não amam o sangue… de burra.
INDIFFERENTISMO– Caruncho que está comendo o tutano da dignidade nacional dos portuguezes.
INDIGESTÃO– Barometro do estomago; ao inverso dos outros, é quando este sobe que promette tempestade.
INDIGNO– Apanhador frequente do que devia dar-se aos dignos.
INDIRECTO (IMPOSTO) – Um calumniado. Vae direito ás algibeiras dos governos e chamam-lhe indirecto!
INDULGENCIA– Arte de fazer desculpar as proprias faltas.
INDULGENCIAS– Letras de cambio sacadas contra o céu. São de cobrança duvidosa, por falta do acceito.
INFALLIBILIDADE– Qualidade que não impede de enganar os outros.
INFANTICIDIO– Coice de burra adormecida.
INFERNO– Visualidade em narrativa.
– A terra dos albuns, para quem for poeta.
INFINITO– O mais antigo dos logogriphos.
– Livro sem fim, onde o homem treslê.
INGRATIDÃO– Arte de saldar contas sem as pagar.
INIMIGO– Amigo assanhado.
INNOCENCIA– Avesinha que a malicia afugenta.
INOFFENSIVO– Abstracto; ou defuncto, antes de entrar em decomposição.
INSCRIPÇÃO (DE DIVIDA PUBLICA) – Diacho de palavra, que tem mais valor escripta em papel do que em marmore ou bronze.
INSIPIDO– Folhetim do senhor V.
INSOLENCIA– Zurro humano.
INSOLENTE– Pessoa que pede murros.
INTELLIGENCIA– Luz que Deus accende quasi sempre no cerebro dos menos felizes.
INTIMO– Cautela com elle! Sabe o nosso lado fraco, e os nossos segredos.
INTRIGANTE– Cozinheiro que salga e apimenta de mais os molhos.
INTRUJÃO– Palavra nova posta a uma qualidade velha.
– Explorador da tolice humana.
INVEJA– Não bulam com a bicha, que morde e é venenosa.
– Ferrugem de certos trastes.
– Barata que roe uma sombra.
– Raiva dos infinitamente pequenos.
INVEJOSO– Figo passado da humanidade.
– Lombriga do talento.
INVERNO– Porta do sepulchro á vista.
IODURETO (DE POTASSIO) – Pagamento de letra vencida.
IRA– Mãe da apoplexia.
IRONIA– Confeito… de amendoa amarga.
– Fel da bexiga da inveja.
ISCA– Duzentos contos de dote. Eu dou cincoenta a quem me arranjar o resto.
J
JANOTA– Na opinião de um caricaturista celebre, quer dizer: pessoa sem vintem… e sem exame de instrucção primaria.
JAULA– Corpo humano, onde rugem encarceradas as feras intestinaes.
JESUITAS– Collegas de Judas, que tambem era da companhia de Jesus.
JOGO– Cano de despejo da rasão e da fortuna.
– Pedra de toque da educação.
– Pedra atirada para o ar. Cuidado com as cabeças!
JORNAL– Cabide de pendurar opiniões.
– (DE NOTICIAS) Feira da Ladra litteraria.
JORNALISTA (SERIO) – Missionario que prega no deserto.
– (VENAL) Ovelha ranhosa do rebanho.
– (LEVIANO) Semeador de immoralidades.
– (INCONSCIENTE) Um fossador.
– (APAIXONADO) Cego de entendimento.
– (ECLECTICO) Penelope de calças.
JUDAS– Official do teu officio; sobretudo se te dever favores.
JUDEU– Homem que não empresta dinheiro, e vendedor que não fia cognac.
(Theoria dos Marialvas.)
JUDICIOSO– Ouço gritos na rua a pedir soccorro! Ó Possidonio vae acudir. – Estás brincando?! Para me constipar ou ser esfaqueado por engano… Conchega-me ahi a roupa ás costas, e deixa-me dormir descansado.
JUIZ—Abrenuntio! Caros pastores do Bairro Alto, que tocaes flauta de ponta e mola, não confieis no seu ar benevolo. Aquelle sorriso quer dizer que s. ex.ª hesita se deverá mandar-vos para o inferno da Penitenciaria, até que enlouqueçaes, ou para o ameno clima de Moçambique, onde dareis um estoiro com a carneirada. O unico meio de evitar esses dois perigos, é abdicar a navalha, oh amigos de barrigas alheias!
– Corvo que já não traz queijo no bico, desde que foi logrado pela raposa.
JUIZO– Não se sabe o que seja.
JUPITER– Emprezario de theatro.
JURAMENTO (POLITICO) – Espantalho que se põe na figueira, para que os passaros não vão aos figos.
JURAR– Modo de mentir com solemnidade.
JURISTA– Oh! leitor amigo, se tu o és, empresta-me cincoenta inscripções, dadas, para eu o ser tambem.
JUSTIÇA– Um mytho para os pobres, segundo dizem as más linguas; e modo dos ricos fazerem do torto direito, como asseveram as mesmas. Não acreditem uns nem outros, porque em tudo se mente muito.
JUSTIFICAR– Que diabo entenderão elles por justificação?! O meu advogado, que sabe de mim muito mais do que eu, provou que sou homem de bem, e mandam-me para a Costa d'Africa! Para a outra vez hei de pedir que ninguem me justifique.
JUVENTUDE– Prisma de côres brilhantes.
K
KALEIDOSCOPO– Instrumento, onde cada escola politica vê as suas theorias.
KALIUM ou POTASSIUM– Bebe-o com salsa-parrilha, desgraçado! Talvez assim te doam menos os espinhos das rosas colhidas.
KALMIA– Arbusto, em cuja flor as abelhas colhem mel venenoso. É a Traviata das plantas. Só as cabras e os veados a comem impunemente.
KANTISMO– Systema de philosophia de Kant, ou arte de mostrar aos crentes um cabello de Nossa Senhora, tão delgado, que nem mesmo quem o mostra o viu nunca!
KERATINA– Materia prima do chavelho. Tambem os ha sem ella.
KERMES– Um filho do antimonio vermelho, que rebenta gente como a polvora rebenta bombas de foguetes. Se lhe carrego a mão é para lhe retribuir o que elle me tem feito.
KEROSENE ou PETROLEO– Genero que quanto mais abunda no mercado de Lisboa, mais encarece. Ó senhor Governo; acuda aos monopolistas com mais leis protectoras, e com mais commendas. V. ex.ª e elles… lá se entendem.
KILO ou KILOGRAMMA– A nossa jurisprudencia sempre tem cousas! Ha de a gente receber novecentas grammas de carne, quando paga um kilo, e se chamar ladrão ao açougueiro, vae o roubado para a cadeia e não o roubador! Não se póde chamar ladrão a ninguem sem que os tribunaes sentenceiem; mas póde-se ser roubado por todos, sem que ninguem se importe! A lei protege unicamente os que roubam o povo!
Ó nações do mundo? Quem dá uma medalha de honra a este paiz originalissimo?! E se não ha medalhas, dêem-lhe, ao menos, mais alguns pontapés, alem dos que todos os dias leva. Mas, voltando ao kilo, convem saber que o mais que elle dá em Portugal, sobre tudo nos açougues, são novecentas grammas, e já é bem bom.
KISTO– Membrana em fórma de bexiga, contendo humores perniciosos, que nasce nos costumes e tem o nome vulgar de alcouce.
KLOPEMANIA– Doença caracterisada por uma inclinação irresistível para o roubo. É endemica de certo paiz que nós sabemos. Deu-se-lhe o nome grego para fingir que a cousa não é com elles.
KNOUT– Moda russa, que conviria introduzir nos nossos costumes, para lhes dar côr local.
KYRIE-ELEYSON– Senhor, tende piedade de nós, que estamos sendo comidos em vida pelos traficantes de generos alimenticios, e pela administração que os tolera e a policia que os protege!
L
LABÉO– Doença que roe muitas excellencias.
LABIA– Sciencia de pescar incautos.
LACAIO– Imitador servil de certos amos.
LACONISMO– Um sôcco, em resposta a uma insolencia.
LADRÃO– Amador de curiosidades alheias.
– Artista modesto e discreto, que encobre as inclinações.
– (EM PONTO GRANDE) Predestinado á consideração dos governos.
LADRAR– Dizer mal de alguem, por inveja. Zurrar é synonymo.
LAGRIMAS– Ultima rasão da mulher.
– Secreção da glandula do olho, que muitas pessoas abrem, como torneira, a proposito de tudo.
– Ha quem séque as da mulher com as da ostra.
LANGUIDEZ– Estado da bolsa do empregado publico passado o dia 15 de cada mez.
LARAPIO– Homem que busca aventuras.
– Synonymo de cavalheiro… de industria.
LAVAR-SE– Ruim manha, na opinião de muita gente.
LEILÃO– Quem dá mais pela minha belleza?!
(Uma mulher moça.)
– Quem compra o meu voto?!
(Um eleitor.)
– Quem quer a minha honra?!
(Um sujeito que deseja enriquecer depressa.)
– Quem quer pretos, e brancos, e moeda falsa?!
(Aspirante a barão.)
– Quem compra empregos e honras?!
(Pessoa influente.)
– Quem quer enriquecer sem trabalhar?!
(Um cauteleiro.)
– Quem quer moralidade, progresso e economias?!
(Aspirantes a ministros.)
Nota.– O povo, não sabendo para que lado se ha de voltar, nem tendo dinheiro para taes mercadorias, grita por sua vez:
– Quem quer o diabo que os leve a todos?!
E o leilão continúa.
LEITE– Liquido suspeito, que se vende publicamente em Lisboa.
LEITURA, DE PEÇA (OUVIR) – Pesadello, depois de se ter ceiado carneiro com batatas.
LEMBRANÇA– A mais duradoura é a que nos recorda as belliscaduras feitas ao nosso amor proprio.
LIBERALISMO– O pesadello de Roma e dos que gostam do arroxo.
LIBERDADE– Um horror, segundo a opinião dos jornaes que mais usam e abusam d'ella.
– Faculdade que cada um tem de fazer com que o mettam na cadeia.
LIGA– Juncção de metaes, formando um todo impuro.
LIMOEIRO (CADEIA) – Arvore de má sombra. Os que a apanham são quasi todos obrigados a mudar de ares, e raros se restabelecem.
LIMPEZA– Ha mais nas ruas do que nas mãos.
LINGUA– A arma de maior alcance.
– Instrumento sem cordas, que muitas vezes faz encordoar.
– (CLASSICA) É a guizada.
– (CORRUPTA) Quando se chama de vacca, sendo de boi. Outros dizem ser synonymo idioma de vacca.
LINGUADO– Discurso chato.
LISBOA– Vasto cemiterio de podridão e lentejoulas, como chamou ao reinado de el-rei D. Manuel o senhor A. Herculano.
– Cousa immunda e pestifera.
– Tapem os narizes e fujam!
LITTERATO (DE BOTEQUIM) – Sujeito sem vintem, sem instrucção e sem officio.
LIVRARIA– Unico logar em que é permittido confundirem-se os mortos com os vivos.
– Exercitos de mudos, que exprimem idéas de todos os diabos.
– Instrumento, cujas cordas vibram no coração de todos os seculos.
– A Babel das idéas.
– Gazometro do espirito.
LIVRO– Soporifero dos parvos.
LOBISHOMEM– Cantor que vae perdendo a voz.
LOBO– Parlapatão imprudente, que imagina poder tratar com o homem de mano a mano.
LORPA– Homem em projecto.
LOTADOR (DE VINHO) – Envenenador que faz concorrencia ao medico.
LOUREIRO– Emblema de gloria, com que se coroavam antigamente os poetas. Hoje é emblema de escabeche.
LUA– Confidente discreta. Mas nem a ella digas que és pobre, se não queres que até os cães te evitem, com medo de que tu os mordas a elles.
LUGUBRE– Homem que pede dinheiro emprestado.
– Orçamento do estado.
LUNATICO– O que acredita nos outros e duvida de si.
LUPANAR– Casa onde os filhos familias recebem a ultima demão de moral.
LUVA– A mais alta expressão social. Ás vezes é mais limpa do que a mão que a calça.
LUXO– Cancro da sociedade e da familia.
– Perdição de muitas mulheres.
– Sanguesuga de todos os maridos.
LUZEIRO– Qualquer jornal pifio, no conceito dos que o escrevem.
LYCEU– Accumulação de absurdos. Pobres rapazes! Por que insolitos meios fazem de vós os homens do futuro! E queixam-se depois se algumas vezes desatinaes nas academias e nos parlamentos!.. Quando chegaes a ser deputados, pares, ministros, sabios de qualquer tamanho, lembraes-vos naturalmente do lyceu, onde a ignorancia e a maldade, o pedantismo e a presumpção estupida vos atrophiaram a intelligencia e perverteram o senso moral, e daes-lhe para baixo com as vossas reformas, que os põem cada vez peior! Mancebos de hoje, tomae o conselho de um amigo prudente, que ama do fundo d'alma a mocidade com todas as suas loucuras e tolices: Quando chegardes um dia a fazer leis, não copieis dos estrangeiros as reformas para a instrucção de vossos filhos. Deitae abaixo o lyceu, e restabelecei o antigo curso de humanidades, que nos deu os grandes homens que sabiam bem das suas especialidades, em vez dos que hoje fazemos, obrigando-os a aprender tudo para ficarem sem saber nada.
Zacharias, toca o bumbo! As tiradas graves afugentam o publico. Deixa brilhar os lyceus, e a rapaziada que os reforma.